Práticas de ensino de inglês

Fernanda Ribeiro

PREFÁCIO

Há mais de duzentos anos, o inglês tem sido uma das línguas estrangeiras oficialmente estudadas em nosso país. Mais precisamente no ano de 1809, Dom João VI, movido pelo interesse de melhorar as relações diplomáticas e comerciais com as potências europeias da época, oficializa, por meio de um decreto, o ensino das línguas inglesa e francesa na então colônia portuguesa. Iniciase neste momento a importância do inglês como uma das línguas para transações comerciais e diplomáticas.

Nos anos 30, durante o governo de Vargas e sua implementação do Estado Novo, a Educação era uma das prioridades e houve grandes reformas tanto no Palácio Capanema, quanto em estrutura curricular e incentivo ao acesso da população a escolas públicas. Nessa reformulação, foi-se gradualmente alimentando a nacionalização da educação no país. Esse fato também gerou a centralização das decisões sobre currículo e metodologia. O inglês se manteve como uma das línguas estrangeiras nos currículos oficiais e seu ensino padronizado seguia o Método Direto, que focava basicamente em leitura e tradução.

Após a Segunda Guerra Mundial, com o prestígio e poderio que os Estados Unidos obtiveram tanto na política quanto no mercado internacional, a necessidade de aproximação com a maior potência da América do Norte estimulou ainda mais o estudo de inglês no Brasil, obviamente seguindo a tendência mundial. A procura pelo ensino de inglês atualmente ultrapassa a marca de qualquer outra língua, o que impulsionou também mais e mais pesquisas sobre esse processo de aquisição e o ensinoaprendizagem de língua inglesa porfalantes de outras línguas, bem como a discussão de currículos apropriados e criação de material em diversas formas de mídia.

Nos anos 60 e 70, uma explosão de teorias de linguagem, ensinoaprendizagem e ensino-aprendizagem de línguas definiu vários outros rumos para todo o processo de aprendizagem de inglês e outras línguas no mundo, impulsionados pelo surgimento e afirmação do campo da Linguística Aplicada em diversas universidades pelo mundo. Metodologias novas, como audiolingual, audiovisual, abordagem comunicativa e abordagens naturais são apenas alguns exemplos. Os impactos no Brasil foram sentidos tanto em discussões de currículo e mudanças em escolas públicas quanto no surgimento de novas escolas de idiomas, inaugurando um setor no mercado que se ampliou nas décadas seguintes.

Nos anos 80, a Linguística Aplicada se afirma ainda mais como um campo de pesquisa no Brasil com a instauração do Programa de Pós-Graduação em LA e Estudos de Linguagem (LAEL) e com a criação do doutorado (1980) na PUC-SP. Dessa corrente de pesquisa e produção, muitos nomes da Linguística Aplicada despontaram no Brasil os quais contribuíram para a reflexão, discussão e visão crítica do processo de ensino-aprendizagem de língua inglesa por falantes de língua portuguesa e outras línguas em nosso contexto. Dentre esses nomes, destaco a Professora Maria Antonieta Celani com o seu projeto na PUC-SP, CEPRIL – Centro de Pesquisas, Recursos e Informações em Leitura. O projeto é um marco e inspiração para pesquisadores em Linguística Aplicada por trazer uma visão crítica do processo de ensino-aprendizagem no contexto brasileiro. Esses pesquisadores deram voz a nossa realidade, com seus desafios, contingências e condições específicas.

Hoje a grande discussão está no ensino de inglês como lingua franca, o que valida ainda mais a visão do professor não nativo com a visão crítica de ensino de inglês para falantes de outras línguas em contextos e propósitos próprios. A língua inglesa ainda ocupa lugar de destaque no mundo, seja por razões comerciais, políticas ou culturais. Contudo, ao contrário dos motivos iniciais de seu ensino ter sido difundido pelo mundo como resultado da aproximação de países que eram tidos como nativos da língua, como a Inglaterra e os EUA, hoje o inglês aproxima nações e falantes não nativos em todo o planeta. Nesse sentido, os desafios e a voz dos professores que estão inseridos em contextos específicos têm ganhado cada vez mais relevância na comunidade científica.

Por isso, recomendo a leitura deste livro, organizado pela professora Fernanda Ribeiro. Esta publicação busca dar voz a professores-pesquisadores de língua inglesa, trazendo à luz diversos aspectos do nosso contexto de ensino-aprendizagem do idioma em nossa realidade brasileira atual. Além disso, o livro preenche uma lacuna na área ao trazer para o docente uma visão ampla de dezesseis contextos de ensino do idioma, permitindo ao educador atualizar-se e convidando-o a experimentar novos desafios. Os autores, atuantes nas áreas de ensino abordadas em seus respectivos capítulos, apresentam e registram aspectos de ensino de inglês no cenário contemporâneo, compartilhando suas visões, experiências e reflexões. Esta obra é uma grande oportunidade não só para quem já está em sala de aula, mas também para estudantes de graduação em Letras de ampliar e aprofundar seus conhecimentos relativos ao ensino do idioma, contribuindo para seu crescimento profissional. Diante disso, parabenizo a professora Fernanda pela iniciativa de organizar este volume.

Seguimos difundindo o ensino-aprendizado de inglês de forma crítica, buscando entender nossas próprias complexidades, realidades e identidades nesse processo. Boa leitura!

Cláudia Rebello dos Santos
Professora Doutora
Departamento de Letras e Comunicação Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – UFRRJ Coordenadora Geral do Núcleo Gestor da UFRRJ da Rede Andifes e Programa Idiomas sem Fronteiras

Ano de lançamento

2021

ISBN

978-65-5869-449-6

ISBN [e-book]

978-65-5869-450-2

Número de páginas

343

Formato

Organização

Fernanda Ribeiro