Presenças e Virtualidades: perspectivas psicanalíticas

Fabiano Chagas Rabêlo, Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis, Maria Vitória Campos Mamede Maia, Monah Winograd, Sílvia Nogueira Cordeiro

O quinto livro do GT de Psicanálise e Clínica Ampliada da ANPEPP chega com o desafio de alçar a um novo patamar a extensão dos limites do setting clínico e dos fundamentos ontológicos da Psicanálise. Essa ampliação esteve inicialmente vinculada a novas áreas de atuação e intervenção, para além dos modelos assistenciais médico-psiquiátricos e psicoterápicos, rumo a uma visão mais diversificada de saúde, considerando a natureza psicossocial as múltiplas facetas identitárias da condição humana para produzir uma abordagem multiprofissional e intersetorial. Apesar das conquistas que foram construídas por meio da articulação teórico-prática de nossas instituições de formação, pesquisa e regulamentação na história recente da sociedade brasileira, esse percurso ainda é muito incipiente e frágil, particularmente no que tange ao campo psicanalítico. Não obstante, o tempo não para e a história é imprevisível. Eis que a revolução digital da sociabilidade no século XXI se consolida por meio dos contornos trágicos da condição pandêmica, lançando-nos em uma espiral de novos questionamentos e experimentações. Em um mundo marcado por formas de subjetivação cada vez mais apoiadas no suporte comunicativo das mídias e nos ambientes virtuais de interação, trabalho e socialização, a os limites do corpo e os contornos da imagem colocam-se como uma nova fronteira da condição humana.
A metafísica da presença marca nosso legado ocidental eurocêntrico e moderno, infiltrando-se na epistemologia científica naturalista da qual a cosmovisão freudiana não conseguiu completamente romper. A abstração privada da vida mental em sua rede de representações por tempos configurou os limites entre a visibilidade e a invisibilidade, relegando ao corpo o lugar de objeto a ser disciplinado. A subjetividade contemporânea se configurou marcada pelo ultrapassamento dos limites bem cortados entre público e privado, singularizado e massificado, invertendo a relação entre corpo e mente no primado da condição subjetiva. O corpo concreto passa a ser o suporte de uma escrita simbólica que se perfaz em movimento encarnado, bem como o endereçamento dessa expressão encontra sua realização por meio da responsividade no corpo do outro. No intercâmbio desse espaço intersubjetivo encontra-se todo o potencial lúdico da virtualidade. A concretização do sonho dos paraísos artificiais, contudo, não nos trouxe somente a transcendência do porvir e as sutilezas dos encontros, mas a demanda das certezas contra qualquer diferença e a apropriação monetizada da audiência alheia. Seriam os enquadres das telas negras e espelhadas de nossos dispositivos as janelas para que espécie de mundo? Sorte nossa que o fatalismo abriu terreno para a ousadia de novas formas de enlace, dos quais os trabalhos reunidos neste livro constituem um precioso testemunho.

Érico Campos – Unesp Bauru.

Ano de lançamento

2023

Formato

ISBN

978-65-265-0524-3

ISBN [e-book]

978-65-265-0525-0

Número de páginas

263

Organização

Fabiano Chagas Rabêlo, Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis, Maria Vitória Campos Mamede Maia, Monah Winograd, Sílvia Nogueira Cordeiro