O percurso de uma ideia não se dá sem necessários horizontes. E ele se movimenta, nesses horizontes, com a diligência de jovens pesquisadores que, ao se apropriarem de velhos conceitos, se valem deles dos modos mais contraditórios e, por isso, produtivos. É daí que, mesmo diante da eterna confusão de graduandos — e mesmo pós-graduandos — quando apresentados a termos epistemologicamente como “língua” e “linguagem”, algo de apaixonamento se dá. Um amor pela teoria, justificável no objeto da linguística: “O que se revela, então, é uma relação singular da língua com o amor”, diria Jean-Claude Milner, em seu O amor da língua.
O que lemos neste livro, portanto, são ensaios de amor — não ridículos — de jovens que depositam seu desejo nas ideias sobre língua e linguagem. E em meio à contradição. Atravessados por uma teoria, a História das Ideias Linguísticas, que, (a) de modo geral, pouco reflete sobre a projeção — embora a conceitue —; (b) desconsidera, em sua versão europeia, a questão da racialização nos processos de construção de saber; (c) toma a literatura como secundária no trabalho de conceituação de línguas e linguagem; (d) lateraliza o objeto da oralidade indígena, como ponto anterior à revolução que permite a metalinguagem; (e) evita os embates com o Outro da psicanálise; (f) afasta qualquer tentativa de apreensão da constituição cotidiana das ideias linguísticas; os autores deste livro elegem toda essa negação como possibilidade de investigação. E não se trata de preenchimento de uma falta. Trata-se do modo de situar a HIL em território(s) disciplinar(es) brasileiro(s), com suas especificidades e seus demais objetos de amor.
Ainda de acordo com Milner, às vezes nos basta a posição cômoda de “linguista durante a semana, leitor de poetas no sábado”. Mas eventualmente precisamos escapar: “a cada ponto de sua construção eles [nós] localizam[os] o não-todo que volta a assombrar, tal como o fantasma do rei, a ordem que seu apagamento permitiu seriar”. Que seja uma bela leitura, a desses jovens apaixonados.
