Teatro e ensino: a cena como potência transformadora

Domingos Oliveira, nome imprescindível do teatro brasileiro, nos oferece uma verdadeira joia em seu livro Minha vida no teatro: “O mundo é uma beleza. Se eu não tivesse o mundo dentro de mim, eu ficaria cego quando abrisse os olhos. E o teatro é a beleza das belezas. É beber o vinho de uma existência inteira na taça frágil de uma hora.” (Oliveira, 2010, p. 414). A afirmação do diretor, dramaturgo e ator, além de poética, é certeira. Ao destacar que o mundo é a matéria de memória que forja o Teatro, a sentença expõe a vocação didática dessa Arte. O Teatro, nesse sentido, dá forma, voz e corpo às perplexidades e expectativas, aos anseios, silêncios, e à multiplicidade de sentimentos que atravessam a experiência humana.

Em função disso, é fundamental atentar para o fato de que esse aprendizado acontece em um espaço de tempo simultaneamente condensado e expandido. Condensado, do ponto de vista da temporalidade cronológica – o tempo de duração de uma peça – e expandido pela capacidade que um espetáculo teatral tem de permanecer reverberando prolongadamente na cabeça do expectador.

Para além da temporalidade, é preciso ter em vista que a força pedagógica do Teatro não se limita à sua articulação com os currículos escolares ou universitários. Ainda que essa relação seja necessária e frutífera, os sentidos do binômio Teatro e Ensino se alargam para além dos contornos da educação formal. Esse binômio ganha densidade no mundo – esse mundo que pulsa tanto dentro quanto fora das salas de aula –, e é justamente nele que o Teatro encontra seu espaço mais vital de atuação: como prática viva de escuta, expressão e transformação.

A obra que agora chega às mãos do leitor é uma declaração de princípios sobre as múltiplas possibilidades das relações entre Teatro e Ensino. Teatro e Ensino: A Cena como Potência Transformadora aborda, em diferentes latitudes, os entrecruzamentos desses campos autônomos do conhecimento. A consequência desse entrelaçamento é a edificação de uma obra sólida e polifônica.

As muitas vozes que deram feição a este livro, quarto volume da coleção “Teatro e Ensino”, criada no âmbito do Grupo de Trabalho Dramaturgia e Teatro, da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Letras e Linguística (ANPOLL), só reafirmam que a coleção tem se consolidado como um espaço franco para a necessária interlocução em torno de tema tão oportuno e instigante.

(André Dias – Professor Associado de Literatura Brasileira – UFF/CNPq)