Gaiola aberta

Érika Amâncio Caetano

PREFÁCIO

Carlos Henrique Silva de Castro

Prefaciar um livro de poesias, em versos e em prosa, não é tarefa fácil para um não autor do gênero como eu, mas espero poder apresentar o livro com a generosidade que ele merece. Eu já lia os textos da Érika há algum tempo, no velho Garrastazu, blog que mantém desde 2009, além de sua produção acadêmica. Sou fã inconteste, mesmo que às vezes não tão constante como gostaria. Essa coletânea, e a organização aqui proposta, na forma do Gaiola Aberta, apesar de trazer toda uma carga de textos escritos ao longo de mais de uma década, é um livro cheio de frescor, de bom humor e, sobretudo, de muito amor. Se Érika prefere ser como o amanhecer, os textos que fazem essa coletânea, de voos e pousos, ora são como uma manhã aconchegante – talvez como a deste sábado de inverno de céu claro ao sul do equador, onde e quando me deleito em poesia e escrevo essas acanhadas palavras – e poucas vezes são mais soturnos, mas a noite para ela é quase uma preparação para a alvorada. Érika se desafia a transformar tudo que ouve em poesia, como anuncia logo no início do livro, e quem ler as páginas que seguem não duvidará disso. Para quem é seu amigo desde antes do Garrastazu, essa não é uma a novidade, já que estar do lado da Érika, quando temos esse privilégio, é estar rodeado dessa leveza poética sempre cuidadosa, bela, singela. Assim, Érika traz para estas páginas a poesia em que transforma o vazio, a angústia, as dores, as expectativas, com uma escrita madura e segura de quem faz isso na vida real. Seu texto é de coração aberto, um coração que é todo dela – não é de aluguel, como sugere ser necessário a alguns arrogantes que lhe atravessaram o caminho.

O livro se divide em duas partes: uma com mais poesia em verso, mas não só; outra com mais poesia em prosa, mas não só. A parte I, como o próprio título indica, é mais sobre voos, sonhos, fantasias, ou mais sobre as canções que ela tenta fazer da vida. Aí estão seus segredos, suas verdades, seu cotidiano permeado de um amor que é insistente e fervoroso, e, através de suas magnifying glasses, necessárias ao seu olhar etnográfico, alguns desalentos que se transformam pela sua palavra. Há também espaço para uns 3 pileques e outros devaneios bons. O livro, apesar de trazer textos de diferentes momentos da Érika, é a-temporal. Porque quem percorre as histórias e entrelinhas deste livro pode acreditar que vale a pena se entregar, pagar pra ver, vale a pena viver, ou, como Érika bem disse em uma destas páginas, a vida que nos vem terrena vai valer a pena.

Já a parte II é mais sobre pousos e a autora aparece mais capricorniana, com sua rotina, seu trabalho de formiga, de professora dedicada, de escritora. Nesta segunda parte, mais em prosa que em verso, há cartas, oração, resignação, reconciliação, reflexão em forma de ironia fina sobre a 9 arrogância, a vaidade, a futilidade. Se cita Dostoiévski, o novelesco e o trágico das relações, as culpas e os amores azedos, que parecem ser típicos da nossa realidade, perdem o protagonismo para a coragem, a força e a fé típicas dela. Assim, a leitura é leve – o que não significa que não seja profunda, sobretudo para quem a conhece um pouco e a reconhece nessas entrelinhas. É leve porque é bem escrito, agradável e bonito, tal como a autora parece perceber a vida.

Apesar de Érika declarar em algum momento que procura coisas bonitas e inspiradas para escrever, a mim parece que elas brotam naturalmente em meio a palavras bem escolhidas, equilibradas, comedidas, mas intensas. Para quem está no seu primeiro encontro com ela, seu texto flui, frui e, por vezes, provoca. Se a parte I começa com uma autodeclaração em que ela diz preferir ser o amanhecer, com o equilíbrio dos capricornianos, damas da noite pululam aqui e acolá, sobretudo na parte II. Como leitor, espero que Érika continue vestindo suas fantasias, transformando a vida em poesia, em canções, sendo bicho livre, colhendo girassóis. E deixe sempre a gaiola aberta. Aceito toda sua inspiração, suas provocações, seus conselhos, sua poesia, querida Érika, do seu pequeno infinito para os nossos corações. Ao leitor, à leitora, aconselho o mesmo!

Carluxo
Belo Horizonte, inverno de 2021

Ano de lançamento

2021

Autoria

Érika Amâncio Caetano

ISBN

978-65-5869-406-9

ISBN [e-book]

978-65-5869-470-0

Número de páginas

189

Formato