Leituras sobre a sexualidade em filmes: Behaviorismo, Análise do Comportamento e Terapias Contextuais. Vol 10. Coleção Sexualidade & Mídias

Ana Cláudia Bortolozzi, Florêncio Mariano da Costa-Junior

APRESENTAÇÃO

Ana Cláudia Bortolozzi

Florêncio Mariano da Costa-Júnior

O Behaviorismo tem como objeto de estudo a interação entre indivíduo e ambiente e busca compreender as variáveis ambientais internas e externas que funcionalmente estão relacionadas aos comportamentos analisados. O desenvolvimento das psicoterapias de orientação Behaviorista ainda carece de contribuições que auxiliem na compreensão dos processos comportamentais que se relacionam com questões de gênero, sexualidade e diversidade sexual, seja no campo conceitual, experimental ou aplicado.

Para atender essa lacuna apresentamos este Volume 10 da Coleção Sexualidade & Mídias, Leituras sobre a Sexualidade em Filmes: Behaviorismo, Análise do Comportamento e Terapias Contextuais, que na mesma direção dos demais livros da coleção, reúne autores e autoras que selecionaram filmes, séries e curtas em torno de uma temática comum – que é a sexualidade humana e suas intersecções diversas – para uma análise crítica que vá além do senso comum e dialogue com leitores e leitoras a partir de referenciais teóricos consistentes.

O livro é composto por nove capítulos. Quem abre a obra é um dos organizadores, Florêncio Mariano da CostaJúnior, analisando o filme A Professora de Piano: práticas BDSM, sexualidade e saúde mental, no Capítulo 1, problematizando os entrelaçamentos entre contextos de desenvolvimento das práticas sexuais e da vulnerabilidade psicológica, especialmente sobre as experiências de abuso e violência consentidas ou não consentidas.

Táhcita Medrado Mizael, no Capítulo 2, Cara Gente Branca: teoria das molduras relacionais, identidade negra e relacionamentos interraciais, analisa uma série que retrata o cotidiano de universitários negros dos EUA enfrentando situações de racismo. A autora apresenta uma análise sobre as questões intra e interraciais relacionadas ao colorismo, ao sexismo, dentre outros aspectos.

A famosa série de ficção científica Black Mirror, que trata das consequências de um mundo dominado pela tecnologia, foi analisada no Capítulo 3, San Junipero: o controle social do comportamento sexual em Black Mirror, pelos autores Caroline Prestes Villa, Renan Kois Guimarães e Camila Muchon de Melo. No episódio analisado os autores discutem o romance entre duas mulheres, retratado de maneira sensível e com outras intersecções, como a bissexualidade e a raça.

No Capítulo 4, Shame: comportamento sexual compulsivo em uma perspectiva comportamental, os autores Mayra Savi Gonçalves e Florêncio Mariano da Costa-Júnior, discutem sobre os fatores morais e culturais funcionando como barreiras para que a compulsão sexual seja compreendida como prejudicial à saúde e às condições de vida. Além disso, os autores acreditam que os valores sobre a masculinidade podem contribuir para o fortalecimento dos repertórios da própria compulsão.

Na mesma direção, temos o Capítulo 5, Ninfomaníaca I e II: questões sobre a compulsão sexual, de Thaís Juliana Medeiros. A autora descreve a narrativa da personagem Joe nos dois filmes e analisa os comportamentos compulsivos relacionados ao sexo a partir da esquiva experimental, para evitar ou diminuir as respostas emocionais aversivas (estresse, ansiedade e medo), as quais foram aprendidas em uma vida de pouco contato social e poucas interações para aprimorar habilidades sociais e classes de respostas positivas e reforçadoras. Também conclui que “são poucas as pesquisas na área de análise do comportamento que abordem a compulsão sexual, especialmente entre mulheres, devido ao estigma e exclusão social que vivenciam em função do transtorno” (p.123).

A autora Sarah Faria Abrão Teixeira, no Capítulo 6, Coisa Mais Linda: a sororidade sob a perspectiva da análise do comportamento, analisa na série essa temática atual: solidariedade e empatia entre as mulheres, voltada para a luta dos direitos. A autora olha para o feminismo à luz do behaviorismo, sem sobrepor a ele, pois, segundo ela “o objetivo da comunidade analítico comportamental seria se contrapor, assim como o feminismo interseccional, a todo e qualquer tipo de preconceito. Defender a análise relacional organismo/ambiente significa identificar que o problema não está no indivíduo e sim em práticas culturais discriminatórias” (p. 140).

No Capítulo 7, 365 Dias: reflexões sobre o conceito de self e o contexto de violência contra a mulher sob a ótica analítico comportamental, as autoras Aline de Marco da Silveira e Thais de Souza Mascotti discutem um filme que trata de um relacionamento baseado em comportamentos de violência sexual e psicológica. Um tema atual e de discussão pertinente e urgente, apresentam a narrativa e analisam o longa, especialmente nas relações conjugais, a partir de conceitos como: humilhação, dependência, opressão, feminicídio e empoderamento.

No Capítulo 8, Eu Matei Ele: uma breve reflexão sobre a influência da religião na vivência da homossexualidade, os autores Felipe Gonçalves e Tiago Florêncio analisam a relação entre a religião e a homossexualidade em um Curta metragem brasileiro. A partir de uma análise cuidadosa, os autores mostram com exemplos a agência de controle e o controle aversivo, o reforçamento negativo, a punição positiva, a punição negativa e a culpa, e ressaltam o quanto a religião funciona como dispositivo de controle sobre as sexualidades dissidentes.

Finalmente, o Capítulo 9, Boy Erased: homossexualidade, ética e moralidade nas terapias de reorientação sexual, de Leonardo Peres Navarro e Florêncio Mariano da Costa-Júnior, encerra esta obra. O filme analisado é baseado em uma história real sobre um jovem gay que participou compulsoriamente de um programa terapêutico de reorientação sexual com pressupostos religiosos conservadores, e o quanto isso significou uma violência na sua vida. Segundo os autores, a análise ressalta o “debate necessário sobre as técnicas, intervenções clínicas e a diversidade sexual. As diferentes identidades existem e sempre existiram na cultura e, durante muito tempo, a Psicologia e a Psiquiatria patologizaram as sexualidades divergentes do referencial heteronormativo” (p. 202).

Para quem tem familiaridade com a abordagem teórica que nos propomos a apresentar, qual seja o Behaviorismo, análise do comportamento e as terapias contextuais, esperamos que a leitura seja um momento de reflexão, somatória e debate. Para quem não têm conhecimento, nem domínio, esperamos que seja um momento para uma aproximação que desperte interesse, conhecimento, discussões e enriquecimento. Afinal, defendemos o respeito à diversidade em todos os sentidos, inclusive às diferentes abordagens teóricas no campo da Psicologia.

Boa leitura!

Ano de lançamento

2021

ISBN

978-65-5869-165-5

ISBN [e-book]

978-65-5869-166-2

Número de páginas

209

Organização

Ana Cláudia Bortolozzi, Florêncio Mariano da Costa-Junior

Formato