
Dicionário de Florbela Espanca
Organização: Jonas Leite, Fabio Mario da Silva
A singularidade de Florbela Espanca centra-se numa resistência corajosa à chamada “maturidade”. Esta criadora soube ultrapassar os limites temporais da sua rebeldia de resistente gerando, nos seus poemas, uma energia de usurpação que os empurrou, vivos, em carne e sangue, até à nossa contemporaneidade. É essa capacidade de criar um universo fechado e atemporal que distingue um criador, tornando-o uma força de comunicação imune ao devir histórico. A popularidade permanente de Florbela faz dela um caso, uma performer trans-temporal. A sua poesia de recorte romântico e pós-decadentista, imune a todas as vanguardas da sua época, tem sobrevivido a gerações sucessivas.
A indiferença académica a que Florbela tem sido votada em Portugal – com raríssimas e valorosas excepções como a dos organizadores desta edição – significa uma oportunidade perdida na compreensão do valor comunicante da poesia; o caso Florbela poderia servir de análise de referência para entendermos os mecanismos e efeitos de determinados tipos de ritmos e intensidades verbais sobre uma população desprevenida de literatura. Mas em Portugal somos levados a crer que aquilo que de imediato nos arromba o coração não pode ser coisa séria, nem intelectual. Somos solenes, pesa-nos um manto de quase nove séculos. É por isso que, em vez da filosofia que nunca teve grande coragem de produzir, porque filosofar é inventar o futuro, este país produz poesia, para conseguir respirar. Florbela é um exemplo maior dessa respiração.
Inês Pedrosa
Ano de lançamento | 2025 |
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Formato | |
ISBN | 978-65-265-0812-1 |
ISBN [e-book] | 978-65-265-2365-0 |
Número de páginas | 837 |