Brecha: poemas para espiar segredos de liquidificador

Conhecer de perto o autor nos coloca em local privilegiado. Neste caso, o suficiente para perceber seus versos como extensão da bagagem literária de Leandro Lispector, a qual reúne uma profusão de vozes poéticas que o antecederam, dialogando com elas inclusive. Seu livro de estreia, Brecha – poemas para espiar segredos de liquidificador, oferece aos leitores experimentalismos estéticos, com vários neologismos e subversão da sintaxe, aliados às nuances contraculturais. Como ele bem escreve em um dos versos: “O som do tamborim profano na lira divina da língua” dá a tônica dessa cadência. Além disso, toca nos problemas da humanidade, desnudando-os junto com as pautas sociais tão evidentes nesta Era, entre elas, as formas de amar e a constituição dos sujeitos. Sua escrita é um convite a olhar o mundo de outros ângulos, saindo da nossa zona de conforto, furando bolhas ideológicas – coisa que a poesia faz muito bem – certos de que tombar na Babel do mundo é triunfar na poesia, voando com as asas da liberdade. Em suma, Lispector abre uma fenda proposital nas palavras com uma finalidade única: transfigurar olhares dos leitores num exercício de desconstrução da própria linguagem.

Kalina Paiva, poeta e contista.

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Os versos de Leandro Lispector em Brecha – poemas para espiar segredos de liquidificador nos transportam para um mundo único em que as vozes de Rosa, Machado, Caetano, Noll, Bandeira, Borges, Leminski, a deusa Clarice e tantas outras ecoam na lírica bendita do jovem poeta, que encontra no “é da coisa” da palavra a sua melhor expressão da vida. Vida essa que se revela no sal de Macau, na sala de aula do professor, na observação do real que re(existe), captando flagrantes da contemporaneidade digital e dos dilemas do existir… E, assim, não é mais preciso esperar, mas Esperançar, pois a palavra-sal nos chega aos vãos das entranhas…

Marília Gonçalves, professora, mestra e doutora em Estudos da Linguagem pela UFRN