De professores de língua portuguesa para professores de língua portuguesa
Organização: Adriane Teresinha Sartori
APRESENTAÇÃO
O pressuposto de que as instituições de ensino superior devem se aliar às escolas de educação básica, visando à construção de alternativas para a sala de aula, impulsionou, em 2015, a criação do projeto de extensão “Ensino de Língua Portuguesa em Discussão” (ELPD), na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais. O projeto ELPD possibilitou o encontro periódico de docentes e alunos de graduação para discutir os desafios do ensinar-aprender. Nas frutíferas reuniões realizadas, aulas foram planejadas, ministradas e avaliadas, à luz de aspectos teóricos e de possibilidades da prática pedagógica.
Em 2017, após dois anos de encontros periódicos, a percepção de que experiências significativas haviam sido desenvolvidas pelos professores do ELPD levou-os a registrá-las.
Os textos que compõem esta obra são o resultado desse registro, quando, então, Sandra Maura, Fabiana e Antônio assumiram-se professores que tinham o que dizer a seus colegas quanto à leitura e à escrita nos ensinos fundamental e médio.
Os textos de Sandra Regina, Lucíola e Marcos também apresentam o resultado de suas reflexões a respeito do ensino de leitura e escrita no fundamental, já que os três concluíram seus mestrados profissionais (Profletras-UFMG), analisando práticas desenvolvidas em sala de aula.
Todos os capítulos deste livro, portanto, são escritos por professores em exercício na educação básica, fato que justifica o título do livro, e todos refletem sobre aspectos relacionados à leitura e à escrita. Pode-se dizer que a busca por respostas para uma mesma pergunta origina os textos que compõem esta obra: o que é possível fazer para ensinar a ler (compreender/interpretar) e a produzir textos nas aulas de Língua Portuguesa?
Sandra Regina Ambrózio responde à questão a partir da observação da realidade do nosso alunado dos anos finais do ensino fundamental. Dedos atuantes no teclado dos celulares a impulsionaram a organizar um projeto de ensino com foco na construção e alimentação de uma página no Facebook.
Quase todos os discentes de sua turma tinham perfil nessa rede social, entretanto nunca haviam construído uma página.
Os meandros desse processo são relatados e analisados pela autora que, sem maquiar a realidade, apresenta o bemsucedido, mas também as dificuldades advindas do fato de os textos estarem online.
Em “A produção de hipercontos digitais e o desenvolvimento dos multiletramentos”, Marcos Celírio dos Santos debruça-se sobre um gênero pouco explorado em sala de aula, o hiperconto. Trabalhando com alunos do oitavo ano do ensino fundamental, o autor elabora um projeto de ensino que envolve a leitura de contos e hipercontos e, na sequência, a produção (escrita e reescrita) desse último gênero para a publicação em ambientes digitais. No capítulo deste livro, Marcos analisa o trabalho realizado por um grupo de quatro adolescentes, cujo interesse pelas aulas antes dessa produção era mínimo. O resultado publicado – o hiperconto “Assalto ao Banco” – revela não apenas o engajamento dos estudantes à atividade, mas também o domínio de múltiplas semioses para a constituição do complexo gênero em questão.
O capítulo de Antônio Nunes da Silva Neto é uma prova de que um trabalho com a produção de cartas em sala de aula pode se tornar uma excelente estratégia para favorecer aprendizagens. As cartas, textos autênticos, não simulados, geraram uma significativa interlocução entre os alunos das escolas envolvidas. A análise de alguns textos produzidos revela uma constituição heterogênea no conteúdo temático, que oscila entre elementos da vida particular do estudante e fatos da rotina escolar dos quais participa.
Programas televisivos não são contemplados nas listas de “conteúdos programáticos”. Lucíola Zacarias Mendes propôs-se, a partir de levantamento de programas assistidos pela sua turma de alunos, a desenvolver um projeto de ensino para analisar, com um oitavo ano, o jornal Cidade Alerta, a novela infanto-juvenil Casa cheia (temporada de 2013 a 2014) de Malhação e o seriado estadunidense Todo mundo odeia o Chris. O foco do trabalho é a interpretação desses programas, pois, como acredita a autora, é imprescindível que os alunos questionem ideias naturalizadas, pré-concebidas, considerando outras formas de pensar e interpretar os discursos e a realidade. Nas palavras da professora, “dialogar efetivamente com os textos, interrogando-os, corroborando-os, refutando-os, avaliando-os é essencial para uma leitura mais reflexiva e transformadora”.
Em “O léxico na aula de Língua Portuguesa: um importante colaborador”, a professora Fabiana apresenta sugestões para um trabalho com o léxico, utilizando charges, tirinhas e textos publicitários, os quais revelam, muitas vezes, a inventividade da língua, a intertextualidade da qual os falantes fazem uso para atingir propósitos definidos.
Reduzido à exploração de processos de formação de palavras, o léxico é apresentado aos alunos, conforme a autora, em uma lista de palavras que aparece como estrutura que ocorreu na época da formação da língua, não como fenômeno atual e dinâmico. Sua proposta, então, é contribuir para que os professores percebam a riqueza do que se produz discursivamente na contemporaneidade e a importância do estudo dessa diversidade em sala de aula.
Sandra Maura dos Reis explora a leitura literária entremeada por adaptações de clássicos da literatura brasileira. Ao mencionar o termo “clássico”, imediatamente vem à nossa cabeça alunos de ensino médio, porém a autora subverte o consenso, apresentando um projeto de ensino desenvolvido com alunos de ensino fundamental, sexto ano.
Convencida de que o texto literário não pode continuar perdendo espaço na escola e conhecendo a polêmica que envolve a presença de adaptações de clássicos nessa instituição, a autora não se contenta em responder às questões formuladas historicamente, ao contrário, defende seu trabalho, analisando os resultados alcançados com suas crianças. Assim, o relato de textos utilizados em sala e o modo de implementação do trabalho torna o capítulo produzido por Sandra uma sugestão aos colegas professores de como tratar a literatura no ensino fundamental.
Como é possível observar, este livro pretende contribuir para o exercício da docência na educação básica. Conforme constata Fabiana no capítulo 5 deste livro: “é fato conhecido dos professores que a maioria dos trabalhos acadêmicos está muito longe da realidade, pois não consideram o educando do século XXI e os recursos presentes nas escolas.” E este livro, justamente por ter sido produzido por professores de Língua Portuguesa para professores de Língua Portuguesa, está no caminho inverso dessa constatação.
Adriane Teresinha Sartori
Organizadora
Ano de lançamento | 2018 |
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ISBN [e-book] | 978-85-7993-528-2 |
Número de páginas | 159 |
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Organização | Adriane Teresinha Sartori |