Quando menino, no Sul do Brasil onde nasci e criei-me em meio religioso estoico-judaico, sentia-me uma rama humana infeliz, a sequela de um maldito coito, um coitado. No recôndito dos pensamentos, amaldiçoava todo dia o egoísta ato genitor, responsável por meu existir. Ao travesseiro eu segredava que o não nascimento teria sido melhor, muito melhor que a vida. Lamentava profundamente a condição humana que, ouvia dizer ter-me sido imposta por um ato monocrático, extremamente autoritário de um altíssimo e sempiterno criador do universo e da humanidade.
Eu era um mijolo sapiens desafortunado, amordaçado por mestiços ditames escravagistas de milenares tradições helênicas, judaicas, romanas e germânicas, miscigenados no Velho Mundo, reproduzidos e perpetuados nas colônias que se plantaram em solo americano. Como um peixe em águas baças, meu sistema emocional arfava desprovido de vigor, na carência da imprescindível robustez de estruturas basilares ao usufruto da vida integral. Era para mim aquele contexto uma fatalidade porque eu pressentia ter nascido para ser feliz, no respirar de sonhos oxigenados de vida irrestritamente natural e plena. […]
