Ensinar História: currículo, práticas e sujeitos históricos

Carlos Gustavo Nóbrega de Jesus, Sérgio C. Fonseca

APRESENTAÇÃO

A proposta de organizar uma coletânea sobre o ensino de História nos dias atuais está longe de ser uma escolha ocasional ou uma mera preferência epistemológica no amplo e complexo campo da educação brasileira. O conteúdo desse livro que organizamos — e que reúne as reflexões, experiências e propostas de pesquisadoras e pesquisadores, formadoras e formadores de professores e professoras e professores de História na Educação Básica — não poderia ser escrito em momento mais oportuno. Enquanto escrevemos essas linhas a educação brasileira dá mostras de estar passando por um dos mais delicados momentos de sua História. Por isso, um dos objetivos do projeto que resultou no livro ENSINAR HISTÓRIA: CURRÍCULO, PRÁTICAS E SUJEITOS HISTÓRICOS é propor reflexões que possam contribuir não só com o ensino de História, mas também com sugestões que colaborem para estabelecer um caminho em favor da educação brasileira por meio da prática da educação historiográfica.

O projeto de desenvolver tais temáticas foi impulsionado pelo atual processo irreversível (será que não?) de mercantilização do ensino em prol de interesses de grupos privados e de projetos de poder retrógados e ultraconservadores. Situação que reflete uma infeliz característica da sociedade brasileira, pois, ao mesmo tempo em que se anuncia, quase de forma unanime, que a educação é o principal instrumento de desenvolvimento do país, cada vez menos é dada a ela, na prática, a suposta relevância declarada.

Tal panorama de terra arrasada não é o resultado de um mero acaso, pois longe da amarga realidade das salas de aula, burocratas e técnicos estão delineando um projeto educacional de longa duração que irá auxiliar a definir um futuro baseado numa conjuntura econômica e política excludente, acrítica, tecnicista que pode custar muito caro às gerações futuras.

O ambiente inóspito que se tornaram os órgãos responsáveis pela educação no Brasil, como por exemplo o INEP e a Capes, ocasionou pedidos de exoneração em massa de seus principais técnicos em 2021, situação que é ato reflexo da mal trilhada e regressista (anti)política educacional do atual Governo Federal (2019-2022). No entanto, não seria justo com os governos passados remeter a exclusividade de constante crise da educação brasileira ao condomínio de forças políticas que ora ocupa o Palácio do Planalto e adjacências desde 2019. A normatização curricular prevista pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) que começou cheia de boas intenções, ao sofrer fortes influências dos think tanks empresarias atuantes no campo da educação, pendeu para o lado dos interesses do mercado. Em um processo de longa duração que atravessou diferentes políticas governamentais desde a redemocratização do Brasil, quando foi promulgada a Constituição da República Federativa do Brasil que prevê, em seu Artigo 210, a formação de uma “Base Nacional Comum Curricular” (BRASIL, 1988), sempre imperou a falta de sensibilidade com o papel relevante que teria a educação na construção de um país mais democrático e menos desigual.

Especificamente no que se refere ao Ensino de História o último capítulo de tal narrativa reservou certo requinte de crueldade, uma vez que as mudanças empreendidas no ensino médio pela Medida Provisória 746/16, que estabeleceu o currículo dentro de quatro macro áreas (Língua Portuguesa, Matemática, Ciências da Natureza e Ciências Humanas e Sociais), fixou como as únicas disciplinas obrigatórias Língua Portuguesa, Língua Inglesa e Matemática. Pior para as Ciências Humanas e Sociais, pois o bloco: História, Geografia, Filosofia, Sociologia nasceu eletivo, isto é, o aluno vai escolher se vai cursar ou não tal área. Tal golpe escancara o descaso das recentes políticas públicas da área da Educação com o campo das Ciências Humanas. No que se refere ao ensino de História, o menosprezo à disciplina pode ser explicado por inúmeras variáveis, como exemplo a guinada ideológica à extrema direita da política oficial de Estado e o crescimento de adeptos de tais posicionamentos políticos embasados numa mentalidade conservadora e anticientífica. Por outro lado, não podemos afirmar que este é um fator determinante, pois já não é de hoje que se constata que há uma grande dificuldade na formação de professores de História quando o quesito é a adaptação à fluidez do “mundo líquido”, como defende Zygmund Bauman (2001), ou à “era das incertezas”, como é definido o atual momento por pensadores da educação como Edgar Morin (2000).

Nesse sentido, esse panorama crítico estará estampado em diferentes camadas nos textos aqui apresentados, pois as autoras e os autores reunidos têm um ponto que os agregou nesse projeto, a indignação e a não passividade diante de tal engodo. Além de todos não quererem ser cúmplices dos descaminhos que estão definindo o futuro do país, temos ciência que, se nossas contribuições aqui apresentadas não auxiliarem na mudança dessa incerta direção, ao menos documentará para gerações futuras como se deu o processo de precarização da educação brasileira. Aos que começam a chegar depois de nós dedicamos esse livro na esperança que tenham um maior sucesso em tal tarefa inglória, porém, enormemente necessária, de estabelecer o justo papel que a educação e o Ensino de História têm em um Brasil cada vez mais excludente, injusto e desigual.

Os Organizadores

Referências

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular – BNCC – 3ª versão. Brasília, DF, 2018.

BAUMANN, Zygmund. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo/Brasília: Cortez/Unesco, 2000

Ano de lançamento

2022

Número de páginas

265

ISBN

978-65-5869-689-6

ISBN [e-book]

978-65-5869-690-2

Organização

Carlos Gustavo Nóbrega de Jesus, Sérgio C. Fonseca

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