Escrevivências ciberfeministas e ciberdocentes: narrativas de uma mulher durante a pandemia Covid-19

Edméa Santos

PREFÁCIO

Ter sido convidada para prefaciar a obra autoral da professora-pesquisadora, Edméa Santos, minha referência e de muitas e tantas gentes, minha amiga querida, foi um misto de alegria, surpresa e honra. Profissional que cotidianamente produz movimentos cartográficos fecundos, autorais e da ordem da artistagem, imprimindo à sua professoralidade uma marca, uma singularidade, uma diferença que o sujeito produz em si em devir, aqui concebida como nos inspira Marcos Villela (2016), é um convite-desafio a pensarsentir1 , pois pensar é experimentar, problematizar, criar, quebrar fronteiras e se pôr ativamente no mundo em busca de produzir o inédito.

Nesta obra intitulada “ESCREVIVÊNCIAS CIBERFEMINSITAS E CIBERDOCENTES”, Edméa Santos nos brinda com outras formas de presencialidade no conjunto de oito capítulos que ampliam, tensionam, provocam e apresentam uma com-posição de conceitos e percepções dos sujeitos diversos acerca das lives. Ela as defende e conceitua como “artefatos curriculares, dispositivos e disparadores de ensino, pesquisa e formação” No capítulo 1 nos apresenta #LIVESDEMAIO… EDUCAÇÕES EM TEMPOS DE PANDEMIA, tomando a conversa como dispositivo, pois a conversa por sua horizontalidade, proximidade, acolhimento e empatia, troca de experiências provocada pela dialogicidade, potencializa distintos pontos de vista, e problematiza conceitos que nos são muito caros na pesquisa em educação, já que objetivamos com nossas pesquisas, sobremaneira, intervir no mundo de modo mais humano, como estética da existência.

De modo competente e destemido, narra o contexto geopolíticohistórico marcado por contingências e inflexões de ordens diversas, implica produzir narrativas (auto)cartográficas em fluxo, nas distintas formas e modos de habitar a docência-formação, para vir a ser o que não vinha sendo, sendo portanto, múltipla, numa escrita encarnada na vida, na leitura crítica de quem se autoriza a escreviver, a liveviver, ciberfeminizar, em docênciaciber, num mergulho atento do contexto pandêmico que marca o mundo e consequentemente nossas (re)existências.

No conjunto das lives de maio os destaques são para os conceitos de Educação a distância – EAD, ensino remoto e educação online, apontando de modo assertivo a diferença teórico-metodológica das noções supracitadas. Nas lives seguintes, discute sobre o currículo praticado na pandemia, à luz da Base Nacional Comum Curricular. Este tema tem sido objeto de debates e disputa de narrativas, sobretudo por trazer à lume, o apagamento da diversidade na BNCC, o caráter prescritivo e monocultural de um país pluriétnico e pluricultural. Num tempo em que o direito de cátedra é desrespeitado e as perdas de direito se configuram como um sombrio retrocesso, é imprescindível este debate revestido de uma luta coletiva. A autora destaca o tratamento do uso das tecnologias digitais na BNCC de forma crítica, atenta para a autoria dos praticantes nos currículos em atos.

No girar das rodas de conversa em formato de lives, traz ainda a discussão teórica e metodológica sobre metodologias ativas e a sala de aula invertida na educação online, atravessadas pelas densidades da pandemia debate a democratização da EAD na educação superior e nos diz das adversidades do online em tempo real e da construção de uma ética relacional numa educação que efetivamente aposta na interatividade e comunicação todos-todos e todes.

Na live sobre metodologias ativas e a sala de aula invertida na educação online, problematiza de modo apropriado as metodologias ativas e suas incompatibilidades teórico-metodológicas, ao considerarmos o fenômeno da cibercultura, no que tange à horizontalidade, à interatividade e ao engajamento como princípios do desenho didático que prima pela co autoria entre todos/as, considerando a experiência na elaboração coletiva do conhecimento, haja vista que a cibercultura é da ordem do rizoma, a-significante e acentrado em que não há centralidade na figura do professor nem na do estudante. O que nos interessa é o encontro como acontecimento, numa cartografia das multiplicidades, um hipertexto vivo de nossas práticas, em constante produção e reescrita colaborativa.

Nas mesas redondas toma a experiência como formação nos convoca a refletirmos sobre o desperdício da mesma e nos provoca para não apenas discursar sobre inclusão, diversidade, formação docente 12 na/com/pela diversidade, mas, sobretudo, a sermos docentes ativistas das práticas e processos educacionais na cultura digital.

Somos, pois, suscitados a tensionar a concepção de diversidade e educação e os acionarmos como radicalidades ontológicas produzindo textos multimodais, discursos e referências desses múltiplos resultados da imersão híbrida em tempos de pandemia, e vivermos a diversidade que nos interpela como sujeitos de direito. E nesta esteira de preocupações, com uma educação que com o espírito do nosso tempo, as demandas dos sujeitos da contemporaneidade nos convocam para novas conversas em rede.

Na nova conversa sobre o currículo e a formação docente, os dilemas foram tecidos na perspectiva da pedagogia da pergunta freireana e giraram em torno de respostas múltiplas para a educação online, na comunidade científica de aprendizagem, articulando elementos heterogêneos como saberes e coisas, inteligências e interesses, não podendo ser compreendida como uma totalidade fechada, dotada de contorno definido, mas sim, como um todo aberto.

O bloco final das live de maio de 2020 encerram o capítulo 1, apresentado os potenciais da educação online e das tecnologias e linguagens digitais, as produções autorais e co autorais, cujas narrativas plurais são tecidas como potência e concebem o sujeito como composto, com identidades flexíveis, abertas, híbridas, bricoladas em que os sujeitos mutantes e fabricados se movimentam no campo educacional dando às lives tonalidades diversas, tanto quanto são os sujeitos lançados no mundo e os temas que as mobilizaram.

[…]

Ana Lúcia Gomes da Silva
Profª titular da Universidade do Estado da Bahia- Uneb.

Salvador, primavera de 2021,
reacendendo esperanças em narrativas disruptivas.

Referências

ALVES, Nilda. Cultura e cotidiano escolar. Rev. Brasileira de Educação, n. 23, p. 62-74, 2003.

BEATRIZ, Susana. COMO UMA EMPIRISTA CEGA: PESQUISA-EXPERIÊNCIA. Revista Reflexão e Ação, Santa Cruz do Sul, v.19, n2, p. 120-135, jul./dez. 2011.

CHAUÍ, Marilena. Laços do desejo. In: NOVAES, A. (org). O desejo. Rio de Janeiro, Companhia das Letras, 2002.

GUATTARI, Deleuze. Philosphie, n47. Paris. Les édittions de Minuit, 1º set. p.5-6. Tradução de Tomaz Tadeu, Revista Educação e Realidade, n 27/2

LARROSA, Jorge. Experiência e alteridade em educação. Reflexão e Ação, Santa Cruz do Sul, v. 19, n. 2, p. 04-27, jul. 2011. ISSN 1982-9949. Disponível em: <https://online.unisc.br/seer/index.php/reflex/article/vie w/2444>. Acesso em: 08 março 2021.

Ano de lançamento

2022

Autoria

Edméa Santos

ISBN

978-65-5869- 636-0

ISBN [e-book]

978-65-5869-668-1

Número de páginas

192

Formato