Experiment@ções: ensino, pesquisa e extensão na aula de Língua Portuguesa

Ana Maria Pereira Lima

PREFÁCIO

 

O PIBID é o feliz encontro entre universidade e escola, e este livro apresenta para o público externo a ele, mas também possivelmente envolvido em suas atividades ou curioso sobre suas ações, o resultado de um trabalho construído nos últimos anos por um grupo que envolve a professora universitária, que o coordena, professoras da Educação Básica e jovens aprendizes no ofício de ensinar. Na construção de professoras e professores, esse Programa, que já tem mais de dez anos, oportuniza o corpo discente a desenvolver algo que nenhum curso de licenciatura pode fazê-lo, por melhor avaliado que seja: conhecer o “chão” da sala de aula, vivenciar experiências únicas e, por vezes, irrepetíveis que só por lá ocorrem.

Por tudo o que o PIBID pode proporcionar em sala de aula para nossas licenciandas e licenciandos, é que se apresenta por demais oportuna essa obra com que ora nos presenteiam. Esta se caracteriza por ficar entre o acadêmico necessário para a futura atuação docente e a prática vivida por sujeitos envolvidos no cotidiano escolar. Por isso mesmo, a estrutura da obra não se fecha em um movimento esperado das obras da academia em que vão as teorias e lhes seguem as práticas, mas nos permite, assim como as experiências ao longo da formação universidade-escola, passear conjuntamente com teorias e práticas de mãos dadas, refletindo sobre saberes acumulados e vivências testemunhadas.

E nessa teia de experiências, aulas compartilhadas num mundo em pandemia exigiram, mais uma vez, da docência, um exercício de experimentação não apenas pelas/pelos jovens em formação, mas também para as professoras envolvidas no processo de ensinar, ao exigir aprendizagens outras no campo metodológico, ao se verem diante de aulas que não se realizam na presença física dos envolvidos nem apenas na sincronia da tradição escolar. O conhecimento de toda uma parafernália tecnológica é exigido na construção desse novo espaço de sala de aula. Novos equipamentos ou novas funções que lhes são atribuídas, leituras num mundo em que o texto não parece mais se fixar linearmente, escritas que se modificam nas telas, corpos que se escondem por trás de câmeras por vezes desligadas, vozes que se revelam por meio de um microfone ou de um chat, que permite uma nova forma de se dispersar na sala de aula e dá um novo sentido às famosas “conversas paralelas” e ainda fotos que se revelam por meio de prints de telas. São muitas as provocações apresentadas ao longo de textos cujas práticas se dão sobretudo nesse novo espaço-tempo de escola.

No entanto, as aprendizagens também são reveladas a partir de encontros que se deram semanalmente no espaço virtual da universidade1 , com a coordenadora do Programa, com as professoras da escola e com as/os discentes em formação. Estas e estes relatam a riqueza do PIBID em lhes proporcionar um primeiro encontro com a sala de aula de uma posição que ainda não conheciam. As aprendizagens com que se depararam vão além das já experienciadas ao longo de décadas por algumas professoras e envolvem a compreensão de um mundo desigualmente compartilhado em escolas cujos docentes e discentes precisam de uma boa internet, de equipamentos adequados e de conhecimentos muitas vezes técnicos para a realização do gênero aula. Mas que se revelam precários em escolas públicas cujos aprendizes muitas vezes não têm condições sequer de acompanhar as aulas em modo remoto. A curiosidade das acadêmicas e acadêmicos se juntou aos medos e ansiedades de uma nova era.

Nessa experiência nova para todas as escolas envolvidas, vão aparecendo nas aulas de Português, espaço ocupado, principalmente, pelas pibidianas e pibidianos, autoras e autores nossos contemporâneos e ancestrais que burila(ra)m a nossa língua: Bráulio Bessa ao lado de Patativa, Clarice Lispector elegantemente acompanhando Machado de Assis, Luiz Gonzaga encontrando-se em um texto com o admirável Aldous Huxley. Nesses encontros, as/os discentes procuram pôr em prática estratégias propostas por autores como Cosson (2009, 2014), garantindo o direito à literatura proclamado por Antônio Cândido (1995), nas aulas das últimas séries do Ensino Fundamental ou nas do Ensino Médio, onde ocorrem tais experiências escolares.

Nossas/nossos jovens escreviventes, como diria Conceição Evaristo, também dão nome às novas aprendizagens, que às vezes são desafios: ferramentas que trazem material didático digital, limitações com programas pagos para a criação de material, usos limitados das ferramentas digitais pelos professores-aprendizes desse novo modus operandi, dentre outros. Nesse entrelaçamento de saberes, realidades muitas vezes ausentes no espaço escolar das escolas públicas começam a surgir por meio de vozes que os diferentes sujeitos do PIBID – coordenadora, supervisoras, licenciandas e licenciandos – começam a apresentar a seus jovens. É aí que começam a transitar legitimamente Evaristo, já citada, Sílvio de Almeida, Djamila Ribeiro. Merecem destaque, nesse sentido, textos cujos autores tratam de conceitos como “educação etnocêntrica”, racismo, formação de leitores antirracistas.

Enfim, é uma obra a ser compartilhada com pessoas envolvidas no PIBID país afora, mas que também se destina às formandas e formandos em geral dos cursos de Letras e às professoras e professores de língua portuguesa, de escolas públicas ou privadas. Afinal, se a realidade apresentada é sobretudo da escola pública, as práticas refletidas vão além de um único espaço de atuação, promovendo textos e experiências possíveis em qualquer nível da Educação Básica. Por tudo isso, está de parabéns toda a equipe envolvida neste projeto e mãos à obra, leitoras e leitores!

Kátia Cristina Cavalcante

Ano de lançamento

2022

Número de páginas

206

ISBN [e-book]

978-65-5869-873-9

ISBN

978-65-5869-869-2

Organização

Ana Maria Pereira Lima

Formato