Formação de professores e práticas pedagógicas em matemática: vivências em um grupo de pesquisa

Organização: Dilza Côco, Sandra Aparecida Fraga da Silva

PREFÁCIO

Alexandre Krüger Zocolotti
Alex Jordane

O momento que vivemos – escrevemos este prefácio em outubro de 2020, ainda em meio à Pandemia provocada pelo Coronavírus – pode ser caracterizado como um tempo de limitações e impossibilidades. Como alguns sugerem, quando tudo isso passar, viveremos um “novo normal”. Mas, será que, algum dia, existiu um “normal”? Talvez estejamos sendo levados a pensar em novas configurações…

Enquanto essas novas configurações não se concretizam, vivemos essa espécie de “limbo temporal” exigente, impositivo e restritivo. Uma dessas restrições afeta a nós, professores, diretamente: em tempos de escolas fechadas, fomos “convidados” (ou forçados?) a nos adaptar a uma nova realidade – as aulas virtuais e as atividades remotas. Estaríamos nós passando por uma “metamorfose”?

Nesse processo de Metamorfose ou Adaptação – o termo a ser usado parece ser o menos importante – fomos colocados diante de uma situação inusitada: alunos e professores não podem ocupar o mesmo espaço físico. Mas, mesmo isolados, não podemos negar que existe um coletivo, ainda que este seja um “novo coletivo”. Por mais estranho que pareça, continuamos juntos, ainda que separados…

É com essa perspectiva de “juntos, ainda que separados” que esperamos que você aceite nosso convite de seguir em frente com a leitura das próximas páginas. Caso o aceite, você encontrará diferentes textos, com narrativas diferentes sobre diferentes experiências vivenciadas e de diferentes autores, que, juntos, formam um coletivo, que não é o “novo coletivo”, criado em 2011 pelas Professoras Dilza Côco e Sandra Aparecida Fraga da Silva. Inicialmente, a proposta do grupo era dar apoio a um grupo de cinco licenciandos que atuavam no projeto Mais Educação em escolas da Grande Vitória/ES. Esses licenciandos desenvolviam ações com alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental e sentiam falta de um acompanhamento nessas ações. Como, naquele momento, o foco eram as ações pedagógicas, o grupo adotou o nome de Grupo de Pesquisa em Práticas Pedagógicas de Matemática – Grupem.

Entretanto, com o passar dos anos e, principalmente com a entrada de mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Matemática – Educimat, as criadoras do Grupem passaram a sentir incômodo: parecia que faltava algo que, de fato, servisse de base para os trabalhos do grupo. Reconhecida a existência do incômodo, o passo seguinte – trabalhar na sua resolução – exigia coragem e humildade.

E foi assim, com coragem para alçar voos e com humildade para aprender, se transformar, se metamorfosear, que o Grupem, por meio de suas fundadoras, passou, a partir de 2015, a adotar a Teoria Histórico-Cultural como elemento balizador de suas ações, tanto pedagógicas quanto de pesquisa. O grupo passa a se compreender como um coletivo de pessoas que pensam, discutem, pesquisam e atuam coletivamente.

Foi assim que o Grupem – aqui usamos o nome do grupo, mas estamos tratando diretamente das pessoas que formam esse coletivo – optou por um diferente olhar. Direcionamos nosso olhar – sim primeira pessoa do plural, afinal nós, Kruger e Alex, também fazemos parte deste coletivo – para a totalidade das experiências vivenciadas em processos de ensino e de aprendizagem. Focamos nossas pesquisas e nossas ações pedagógicas em compreender como se dá o desenvolvimento da consciência humana. Especialmente em ambientes que envolvem processos de ensino e aprendizagem em matemática.

O processo de desenvolvimento da consciência humana tem sido pauta de discussões em vários âmbitos, principalmente a psicologia e, posteriormente, na educação. Interessa à psicologia, entre outras questões, compreender como se dá esse desenvolvimento e à educação cabe apropriar-se dessa compreensão, para então repensarse à luz dela. Essa busca por compreender como o ser humano se desenvolve e, consequentemente, como ele se apropria de conhecimentos se desenvolveu por diferentes perspectivas. Dentre elas destacamos a Teoria Histórico-Cultural.

A Teoria Histórico-Cultural tem suas origens nas pesquisas desenvolvidas pelo psicólogo russo Lev Semenovich Vigotski (1896- 1934), trabalhando juntamente com Alexander Romanivich Luria (1902-1977) e Alexei Nikolaievich Leontiev (1903-1979). A Troika, grupo constituído por estes psicólogos, buscou uma alternativa à psicologia vigente na época que considerasse a natureza dialética e histórica dos fenômenos psicológicos como base fundante. Isso significa olhar para o desenvolvimento humano em sua totalidade e não a partir da sua aparência externa. Nessa perspectiva, a totalidade das relações sociais ganha ênfase como Atividade humana, sobretudo com o foco no objeto da Atividade.

Trazendo essas discussões para a Educação e, especialmente, para a Educação Matemática, compreende-se a Atividade Pedagógica como ponto central nos processos de ensino e aprendizagem. Ganham corpo, especialmente no Brasil, as pesquisas com vistas à prática pedagógica e à formação de professores com base na Teoria HistóricoCultural fundamentadas pelas Atividades Orientadoras de Ensino. Não pretendemos aprofundar essas discussões, mas apenas apresentar uma visão geral de como surge a ideia deste livro.

É, portanto, neste contexto que o Grupem se insere e que também surge este livro. Nos capítulos que o constitui, os leitores terão a oportunidade de conhecer e se aprofundar nesses, e em outros, conceitos tão caros para o grupo. É com esse espírito que reforçamos o convite à leitura do livro Formação de professores e práticas pedagógicas em matemática: vivências de um grupo de pesquisa que aqui prefaciamos com muito prazer e alegria.

Aproveitamos também para convidar àqueles que, lagartas, aceitam encarar o processo metamórfico e, borboletas, olharem para o desenvolvimento humano, especialmente para a formação de professores e para as práticas pedagógicas, a partir de sua totalidade, alçando voos maiores.

Uma excelente leitura a todas e a todos.

Ano de lançamento

2021

ISBN

978-65-5869-221-8

ISBN [e-book]

978-65-5869-222-5

Número de páginas

185

Organização

Dilza Côco, Sandra Aparecida Fraga da Silva

Formato