Formação e gestão em educação especial: a pesquisa-ação em foco
Organização: Andressa Mafezoni Caetano, Mariangela Lima de Almeida
PREFÁCIO
A pesquisa-ação (P-A) não é uma técnica nem um método específico de fazer pesquisa de campo, mas uma família de práticas investigativas; uma orientação metodológica geral; e uma atitude investigativa (REASON; BRADBURY, 2008).
É com alegria que recebo o convite de Mariangela Lima de Almeida e Andressa Mafezoni Caetano para prefaciar este livro, que agora organizam com um coletivo de pesquisadores em pesquisa-ação, articulados ao Grupo de Pesquisa “Formação, Pesquisa-ação e Gestão em Educação Especial – GRUFOPEES”, da Universidade Federal do Espírito Santo.
Este grupo tem se dedicado a uma práxis investigativa crítica e contínua, o que tem permitido uma densa produção de conhecimentos sobre políticas e processos de formação de professores, voltadas às práticas pedagógicas em Educação Especial, na perspectiva da inclusão escolar, o que o torna um dos mais importantes espaços de pesquisas colaborativas entre a Universidade e a rede pública de ensino, no Brasil.
A obra retrata a convicção da urgência da pesquisa-ação junto às práticas pedagógicas de formação de docentes, como caminho para construção de uma educação inclusiva, emancipatória, pesquisando com os sujeitos da prática e não sobre esses sujeitos, considerados, nesta perspectiva investigativa aqui elencada, como participantes e coautores da pesquisa.
Na aproximação com o GRUFOPEES ao longo dos últimos anos, pude observar a seriedade e o compromisso do grupo de pesquisa em prol da inclusão escolar de forma justa, ampla e emancipatória. Neste processo fui percebendo o empenho dos pesquisadores em construírem pesquisas verdadeiramente colaborativas, articulando pesquisa/ensino e extensão e aproximando os espaços da educação básica pública com a Universidade, tecendo redes de pesquisadores, quer nas escolascampo; quer na universidade.
Considero a presente publicação uma preciosa contribuição a todos que acreditam que pesquisa e formação devem caminhar como processos íntimos, dialógicos e mais que isso interpenetrantes. Só a pesquisa da/na prática dá significado aos processos formativos e, são esses, que dão rumos e credibilidade à pesquisa.
Percebo nos trabalhos aqui organizados por Mariangela e Andressa que todos eles contemplam a epigrafe que citei acima, contida no Handbook of Action Research (2008) onde os autores afirmam que falar de pesquisa-ação é, acima de tudo, falar de uma família de práticas investigativas, que são organizadas a partir de alguns princípios epistemológicos, de forma a dar conta da perspectiva de produção de conhecimento de forma partilhada com os participantes, sujeitos que vivem suas práticas.
Os trabalhos e pesquisas aqui contidos reafirmam convicções que tenho e que são sustentadas teoricamente por diferentes autores e, dentre estas citamos:
A- Pesquisas que se fazem com a presença partilhada e coletiva com os sujeitos da prática, tendem a produzir conhecimentos mais legítimos do que aqueles produzidos por um pesquisador externo;
B- Realizar pesquisas-ações requer tempo e espaços diferenciados: estas pesquisas funcionam bem na perspectiva da imprevisibilidade; portanto o tempo cronos não funciona bem; é preciso o tempo da pesquisa; é preciso o tempo da compreensão dos participantes; é preciso um lento caminhar juntos;
C- Desde os primórdios com Lewin (1948) sabe-se que as espirais cíclicas são o “core” da pesquisa-ação: ir e voltar; refletir e compreender; rever e recomeçar; realizar sínteses parciais. Sem as espirais cíclicas que funcionam como a própria pedagogia da pesquisa, corre-se o risco de que o processo de P-A funcione de forma manipulativa e domesticadora;
D- Na pesquisa-ação, como já realcei em Franco (2005), todos os sujeitos precisam se transformar em pesquisadores da prática; construir conhecimentos negociados e partilhados; precisam se envolver como co-autores dos conhecimentos que dão sentido às práticas.
E- A pesquisa-ação precisa carregar em suas práticas a perspectiva crítica e emancipatória, de maneira a funcionar como processo formativo; do contrário poderá ser apenas uma prática domesticadora.
F- Sempre é necessário um alerta: uma pesquisa-ação não é uma ação pedagógica coletiva. É preciso que os sujeitos participem coletivamente das decisões e avaliações do processo, num profundo e contínuo processo de aprender com; Além desses princípios investigativos que foram reafirmados nos trabalhos desta obra, todos eles reafirmam, num grito coletivo:
– A importância da realização de pesquisas-ações críticocolaborativas entre a universidade e as escolas de educação básica como condição fundamental para o processo de desenvolvimento profissional dos sujeitos (professores / profissionais da educação) e pela legitimação dos conhecimentos produzidos;
– A importância de que as políticas públicas de formação de docentes considerem a necessidade de aprofundar estudos e pesquisas sobre a inclusão escolar em todas as especificidades; e que tomem por base de suas determinações, as pesquisas já realizadas nesta perspectiva;
– O papel importante dos gestores escolares na condução de práticas pedagógicas com sentido e responsabilidade social; na dinâmica de processos cooperativos na escola e como mediadores na construção de novos conhecimentos junto aos professores, auxiliares e toda comunidade escolar.
Os profissionais da educação que quiserem aprofundamentos nas formas de pesquisas colaborativas podem encontrar neste livro profícuas referências e sinais de que há caminhos possíveis e dignos para a educação brasileira.
São Paulo, 11 de setembro de 2011
Prof. Dra. Maria Amélia Santoro Franco
Ano de lançamento | 2018 |
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ISBN | 978-85-7993-599-2 |
ISBN [e-book] | 978-85-7993-562-6 |
Número de páginas | 270 |
Organização | Andressa Mafezoni Caetano, Mariangela Lima de Almeida |
Formato |