Mídia, discurso e sociedade: problematizações contemporâneas

Daiany Ferreira Dantas, Francisco Paulo da Silva, Geilson Fernandes de Oliveira

APRESENTAÇÃO

Vivemos uma época em que a relação entre as palavras e as coisas, cujos limites representativos foram deflagrados por Michel Foucault, tem adensado e se reconfigurado constantemente

Se no século XX as mídias se tornaram um espaço de expansão das fronteiras discursivas, tornando-se a arena pública de debates, simulações, centro de disputa de sentidos e vigilância política, atualmente, percebemos uma sociedade já imersa na midiatização, na qual saberes e poderes só podem ser compreendidos mediante a análise das tendências e contradições dos discursos midiáticos.

Na presente coletânea de artigos, intitulada Mídia, discurso e sociedade: problematizações contemporâneas, observamos a emergência de possíveis novas epistemes discursivas, advindas de ambientes e práticas que ora mantém a propriedade de um contexto voltado à replicação massiva da univocidade de saberes e poderes, servindo à projeção de supostas verdades históricas, ora expõem a ambiguidade e conflitos desses campos enunciativos, remanescentes das práticas que os forjam. Palavras e coisas são construções capazes de atestar ou confrontar fortemente as fontes de poder que as abastecem. E estas ganham particular complexidade na plurivocidade das mídias do século XXI, com suas narrativas transmidiáticas, seu excesso de transparência e exposição, convocando análises plurais e que admitem tal fluidez heterotópica.

Os discursos das mídias precisam ser estudados de modo a compreendermos quais cenários se erigem nessa disputa por continuidade histórica de sentidos e quais simulações de verdade surgem da utilização dos dispositivos de reprodução do poder, bem como das existências que dissidem destes. Na presente obra, autores e autoras transitam entre as órbitas de saber e poder, que conjugam opacidade e transparência, controle e subordinação, vontades de verdade e dissimulação, por meio de práticas que promovem pós-verdades, verdades e versões.

Os dispositivos de controle do poder e da verdade, as pedagogias de existência e o engendramento de práticas de subordinação e dissidência admitidos neste livro nos possibilitam refletir sobre a mídia enquanto um dispositivo de enunciação (RODRIGUES, 2016), entendendo-a como uma instância que atua de modo efetivo na construção social de realidades (BERGER; LUCKMANN, 1985), arregimentando formas de ver e ser visto, bem como de ser, estar e sentir, elementos articulados a modelos biopolíticos, dispositivos e tecnologias de governo, agenciando, portanto, subjetividades e sociabilidades particulares.

Para compreendermos as singularidades da mídia enquanto formadora e transformadora do social por meio de campos discursivos, dividimos os artigos que compõem a presente obra em três partes distintas. Na primeira delas, Discurso, Governo e Saberes, observamos análises que consideram disputas em torno da questão do governo e o embate por legitimidade entre os discursos que arregimentam as narrativas em torno do saber científico, no contexto de biopoder e controle que matiza a sociedade atual.

Na segunda parte, Discurso, Mídia e Subjetividade, apresentamos um conjunto de artigos que analisam as subjetividades contemporâneas, suas resistências e deslocamentos de sentido. No terceiro momento, confluem artigos que abordam Heterogeneidades do digital, este, visto como espaço de linguagens e identidades fluidas, de disputas e rearranjos, propenso à constituição de práticas que evidenciam as relações de saber e poder, a partir de repetições, exclusões, hiperexposição e novos agenciamentos. Individualmente, cada contribuição, a seguir, brevemente descrita, adiciona um elemento distinto ao conjunto das análises.

Abrindo as discussões da primeira parte do livro – Discurso, Governo e Saberes -, Rafaela Cláudia dos Santos e Antonio Genário Pinheiro dos Santos apresentam o artigo “Discurso e protagonismo na educação nacional: o sujeito professor no seio da responsabilização social”, abordando as formas a partir das quais o sujeito professor é constituído por meio dos discursos que circulam em diferentes materialidades. Em “Identidade cronotópicas pandêmicas: discursos docentes que revelam uma sociedade cansada”, Kassios Cley Costa de Araújo e Renata Archanjo, por sua vez, refletem sobre aspectos constituintes da sociedade em rede e como estes reverberam nas práticas profissionais dos professores, sobretudo, no contexto de pandemia da Covid-19.

Em sequência, Israel Fonseca Araújo e Maria Eliza Freitas do Nascimento, com o artigo “Poder, política e governamentalidade: uma análise discursiva sobre a devastação da Amazônia brasileira”, analisam a produção de sentidos em discursos sobre a devastação da Amazônia, o que é feito por meio de um olhar atento e reflexivo, a partir do qual indicam que tais discursos se articulam a uma memória discursiva, retomando estratégias do biopoder, tendo em vista as políticas de manutenção da vida.

Já em “Governamentalidade e produção de subjetividades de surdos no Youtube e Facebook”, Sara Cristina dos Santos Freires analisa a produção discursiva de pessoas surdas nas redes sociais, observando como tal prática se constitui enquanto ato de resistência, considerando uma ordem discursiva que patologiza a surdez e o sujeito surdo. Fechando a primeira seção, Maria Eliza Freitas do Nascimento e Thaliane Andrade de Lima, a partir do artigo “Ciência e felicidade: produção de sentidos em discurso de autoajuda”, refletem sobre os saberes e poderes inerentes a um tipo de discurso que tem circulação fulgurante no tempo presente: o de autoajuda. Em suas análises, as autoras destacam o quanto se tem, a partir desses discursos, uma mobilização relativa aos cuidados do sujeito consigo mesmo, o que é demandado por meio de dicas alicerçadas em saberes científicos.

[…]

Cordialmente,

Os organizadores e as organizadoras:
Prof. Dr. Geilson Fernandes de Oliveira;
Profa. Ma. Pâmella Rochelle Rochanne Dias de Oliveira;
Prof. Dr. Francisco Paulo da Silva
Profa. Dra. Daiany Ferreira Dantas.

Ano de lançamento

2022

ISBN [e-book]

978-65-5869-680-3

Número de páginas

322

Organização

Daiany Ferreira Dantas, Francisco Paulo da Silva, Geilson Fernandes de Oliveira

Formato