O dilema do taxista: memórias apátridas

“Uma vida completa talvez seja a que termine em tal plena identificação com o não eu, que não resta nenhum eu para morrer.”. (Bernard Berenson, tradução de Clarice Lispector).

Quando me perguntarem o porquê de eu ter decidido escrever este livro, responderei com aquela que me salvou e, ao mesmo tempo, me traduziu, embora eu ainda seja um enigma para mim mesma. No entanto, acredito que este trecho de Clarice Lispector pode explicar o que nem eu conseguiria com maior singeleza e profundidade reproduzir como resposta.

“Uma coisa eu já adivinhava: era preciso tentar escrever sempre, não esperar por um momento melhor porque este simplesmente não vinha. Escrever sempre me foi difícil, embora tivesse partido do que se chama vocação. Vocação é diferente de talento. Pode-se ter vocação e não ter talento, isto é, pode-se ser chamado e não se saber como ir”.