Pontes 2. Hidridismo e educação: a língua como mediadora
Organização: Jacob dos Santos Biziak
PREFÁCIO
Partindo do pressuposto segundo o qual “não há alguns sujeitos ou sentidos híbridos, todos o são”, Jacob Biziak, professor, educador, pesquisador, analista de discurso, autor de inúmeros artigos e livros, e organizador deste, partilha conosco não apenas questões contemporâneas relacionadas à educação, à escola, ao sujeito, às desigualdades, às diferenças, ao que vem sendo entendido como híbrido, como também inúmeros produtos educacionais, elaborados por estudantes de curso Lato-Sensu, Linguagens Híbridas e Educação, do Instituto Federal do Paraná, campus Palmas.
Ao pensar a escola enquanto instituição, e, portanto, enquanto Aparelho Ideológico de Estado, o estudioso Jacob Biziak nos instiga a problematizar as formas de reprodução que ela nos impõe, não reconhecendo a singularidade do sujeito, por exemplo, ou, ainda, suas potencialidades para discutir o mundo e os fenômenos que o cercam. Esse complexo Aparelho Ideológico do Estado, AIE, a escola, parece insistir na construção do fracasso escolar e na produção de mentes resignadas e passivas diante de desigualdades, violências e formas de exclusão. O silenciamento de estudantes, que, raramente, têm oportunidades de atribuir sentidos, estranhá-los e confrontá-los é outra forma de a escola ignorar e expulsar aqueles pelos quais deveria ser responsável: os estudantes.
Biziak (2021) inquieta-se, incomoda-se com essas práticas, convocando os estudantes a ressignificá-las, o que se reflete em diferentes produtos, como os formulados pelas estudantes Jussiani Marquezzotti Ramos e Patrícia Estephane, que nos presenteiam com suas análises discursivas de propagandas de medicamentos e do curta-metragem Vida Maria, respectivamente.
A ancoragem teórica do organizador, Biziak, fundamentada em pesquisadores como Jacques Ranciere, Judith Butlher, Michel Pêcheux, Mikhail Bakhtin, Lucia Santaella, Demerval Saviani, dentre outros, repercute positiva e significativamente nas formulações inéditas dos pós-graduandos, caracterizadas pela preocupação com um ensino inclusivo, aulas dinâmicas, prazerosas, conteúdos que consideram o interdiscurso, a memória discursiva e as posições que podem ser ocupadas pelos alunos. As bases teóricas nas quais os cursistas se apoiam, bem com as análises discursivas por eles realizadas contribuem para o entendimento segundo o qual a escola, ao mesmo tempo em que reproduz a lógica dominante do capital, é capaz de abrir-se para o desenvolvimento de habilidades, competências, saberes, práticas, fazeres, formas de conhecimento capazes de promover a transformação social.
Nesse sentido, os pós-graduandos, ao demonstrarem saber que o trabalho docente é caracterizado pela intencionalidade, e que a educação é uma prática, oferecem-nos produtos importantes para o ensino atual, como é o caso das contribuições de Eliane Maria de Goes Alves, e o seu trabalho A influência dos textos multimodais e o dialogismo no processo ensino-aprendizagem, Gisele Aparecida da Rocha e sua formulação Uma proposta de condição de leitura: utilizando poemas de cordel nas aulas de língua portuguesa e Ilda Müller com o seu Texto e Tabuada.
Uma das riquezas deste trabalho consiste no entendimento de que a aula é sempre múltipla, diversa, contraditória, em alguns casos. Como afirma Ponce (1989, p.136), “(…) a aula é uma célula que representa o todo da escola: o projeto político-pedagógico, o currículo, o projeto da área e o planejamento da disciplina”. Os produtos contidos nesta publicação são caracterizados pelo entendimento de que a sala de aula pode ser um dos espaços de que o professor dispõe para enfrentar as desigualdades sociais e as consequências educacionais que ela traz. O caráter político da aula está na materializado nos fundamentos teóricos, nas análises discursivas realizadas e nas brilhantes propostas apresentadas, como as de Andrey de Campos e sua produção Conhecendo o etanol através da química, e de Rubia Carla Sabei com O racismo e seus ecos na atualidade.
Outra riqueza diz respeito à autoria dos produtos. Sabemos que ocupar o lugar de autor de seu próprio dizer não é tarefa fácil, pois exige que o sujeito consiga olhar a sua produção a partir de um olhar de fora, um olhar exterior, por assim dizer. Além disso, coesão, coerência, controle da dispersão e da deriva são elementos a serem muito bem cuidados, a fim de que a autoria possa ser instaurada. E todos os participantes ocupam este lugar: o de autor, conferindo tanto ao curso por eles realizado, quanto a este livro um caráter de um caráter diferenciado, no sentido de que a criticidade, a preocupação com professores que enfrentam o “chão da escola” e os seus desafios, e uma sociedade ainda marcada por desigualdades e indiferença àqueles que mais necessitam do estado. O trabalho de Monica Sepanscki Garcia, Cultura Indígena, materializa e ilustra nossa argumentação.
O leitor irá perceber que os produtos educacionais aqui expostos são decorrentes de posicionamentos, olhares e interpretações que se contrapõem ao excesso de retóricas políticas e educacionais, confrontando o entendimento comum de ensino híbrido, de escola, saberes e fazeres pedagógicos. Este livro vai além do que foi denominado pelo educador português António Nóvoa (1999) “excesso de discursos”, brindando-nos com fartura de práticas pedagógicas, fundamentadas nas teorias discursivas.
Desejo que esta obra contribua com reflexões e discussões densas, respondendo a alguns dos desafios postos pela sociedade do conhecimento na contemporaneidade, repleta de sentidos, cuja constituição e circulação afetam a relação do homem com a sociedade, com a natureza e a história.
Prof.ª Dr.ª Filomena Elaine P. Assolini
Docente – FFCLRP-US
Ano de lançamento | 2021 |
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ISBN [e-book] | 978-65-5869-599-8 |
Número de páginas | 137 |
Organização | Jacob dos Santos Biziak |
Formato |