Os serviços de apoio pedagógico aos discentes no ensino superior brasileiro

Carlos Eduardo Sampaio Burgos Dias, Michelle Cristine da Silva Toti

APRESENTAÇÃO

O ensino superior federal brasileiro, que se expandiu recentemente com abertura de campi pelo interior do país, criação de universidades e institutos federais e aumento do número de matrículas, também passou por um processo de democratização do acesso. Assim, além da ampliação no número de alunos, houve uma mudança no perfil do corpo discente. Essas mudanças vieram acompanhadas de novas políticas de permanência e assistência estudantil, que têm como marco a publicação da Portaria Normativa 39/2007, que criou o Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES), fortalecido pelo Decreto 7234/2010. Nesses instrumentos legais o apoio pedagógico passou a ser visto como área de atuação para as políticas institucionais de permanência, criando as condições para que as instituições fortalecessem seus serviços e, para muitas, a demanda de ações para atender a essa área.

Esse contexto levou à contratação de profissionais para atuarem no apoio pedagógico e foi nesse momento que, assim como tantos outros profissionais, passamos a atuar como Pedagogos em nossas instituições, em 2012 e 2016. Sem experiência prévia com o Ensino Superior, sem formação inicial que nos preparasse para essa atuação e sem material que nos norteasse sobre o apoio pedagógico aos alunos de graduação no Brasil, a prática profissional mostrou-se particularmente desafiadora.

O livro “Os serviços de apoio pedagógico aos discentes no ensino superior brasileiro” nasceu da necessidade de dar voz aos vários profissionais que atuam em serviços de apoio aos estudantes do ensino superior e que desenvolvem ações de apoio pedagógico. Essa necessidade primeiro nos levou ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Unicamp e, durante uma disciplina, “Educação Superior e o Estudante Universitário”, nos descobrimos com o mesmo objeto de pesquisa, o apoio pedagógico, e com trajetórias semelhantes. Ambos pedagogos, servidores técnico-administrativos em educação de universidades federais que, ao se depararem com o exercício da profissão com alunos de graduação, em um serviço de apoio pedagógico, se viram sem respostas para a maioria das suas perguntas. E sem saber onde buscar essas respostas.

Essa inquietação na nossa prática profissional nos levou aos nossos problemas de pesquisa: o que é o apoio pedagógico no ensino superior? E o que faz um pedagogo nos serviços de apoio aos estudantes em instituições federais de ensino superior?

Passamos a compartilhar nossa trajetória na pesquisa e a dividir nossos desafios de pesquisa e os profissionais. Foi nesse diálogo que surgiu a ideia do livro, ao constatarmos que assim como nós existiam outros profissionais que, provavelmente, encontravam-se com os mesmos desafios e com pouco respaldo. O livro é, portanto, uma forma de complementar e de compartilhar os resultados de pesquisa com outros profissionais e pesquisadores interessados no tema antes de concluirmos nossas pesquisas. Uma forma de aproximar profissionais que atuam no apoio pedagógico e compartilhar experiências, pois estamos convencidos da importância do diálogo entre pares. Nessa empreitada, contamos com a colaboração empolgada de nossas orientadoras, Soely Ap. Jorge Polydoro e Helena Sampaio, que também são organizadoras desse volume.

Podemos afirmar sem dúvida, que, assim como ocorreu uma mudança no perfil dos estudantes, também houve a chegada de novos profissionais com novas demandas de atuação nessas instituições. Pretendemos contribuir com essa realidade, dando visibilidade e legitimidade aos serviços de apoio pedagógico aos estudantes nas universidades brasileiras, especialmente nas instituições públicas. Para alcançar tal objetivo, apresentaremos uma discussão das políticas de permanência e assistência estudantil, buscando contribuir com os profissionais do ensino superior que atuam nesses serviços, assim como avançar na conceituação do que se entende por apoio pedagógico. A escolha por publicar o livro em formato virtual, um e-book com livre acesso, reflete o compromisso dos organizadores em dar amplo acesso às diversas contribuições trazidas no livro, permitindo subsidiar tantas outras experiências pelo país e contribuir, via formação dos profissionais dos serviços de apoio aos estudantes, para uma permanência estudantil para além do acesso e com qualidade.

O livro foi dividido em três partes, a primeira com três capítulos de fundamentação teórica sobre ensino superior, assistência e permanência estudantil e o desenvolvimento dos serviços de apoio aos estudantes, a segunda com relatos de experiências em serviços de apoio pedagógico no ensino superior, em especial em universidades federais e a terceira com três textos que complementam o livro proporcionado outras formas de reflexão sobre o assunto, além de ao final apresentarmos algumas considerações finais, sistematizando as informações trazidas em todo o livro.

No Capítulo 1, “Serviços de apoio a estudantes em universidades federais no contexto da expansão do ensino superior no Brasil”, os autores buscam apresentar a ideia e as justificativas da expansão do ensino superior num cenário global, para depois pensá-la no Brasil, situando o país num contexto comum a outros países e já experimentado por outros, em especial naqueles considerados desenvolvidos. A partir desse fenômeno e da abertura desse nível de ensino para diferentes públicos com diferentes demandas, os autores trazem os serviços de apoio aos estudantes como respostas institucionais a essas demandas. Na sequência, os autores trazem dados da expansão do ensino superior no Brasil e da diversidade de público aqui e abordam a assistência estudantil como uma das estratégias, enquanto política pública, voltada ao êxito desses estudantes e trazem alguns dados que apontam para a carência de serviços pedagógico, ao menos no sistema federal, e para necessidade de implementá-los. Por fim, fazem um breve relato da literatura sobre transição para o ensino superior.

A professora Rosana Heringer, no capítulo 2, “Políticas de ação afirmativa e os desafios da permanência no ensino superior”, apresenta e discute marco para as ações afirmativas na educação superior brasileira. A autora destaca as conquistas que estas políticas representam e as lutas e percalços desse caminho, especialmente em um contexto conservador e de extrema direita. Heringer aponta a importância de se contemplar, além da dimensão material da assistência estudantil, outras dimensões que impactam a permanência e sucesso acadêmico dos alunos, como as dimensões simbólica, cultural, acadêmica e pedagógica.

No Capítulo 3, Toti e Polydoro apresentamos o histórico dos serviços de apoio aos estudantes nos EUA e Brasil com o objetivo de destacar aspectos importantes nesses dois contextos. Nessa discussão é possível notar diferenças importantes e marcantes para a identidade dos serviços que se relacionam diretamente ao modo como as ações de apoio foram vistas ao longo da construção de um sistema de ensino superior nacional.

Na Segunda Parte do livro são apresentadas diferentes experiências de apoio pedagógico, oito desenvolvidas em universidades federais brasileiras, uma em uma universidade estadual, uma em uma universidade confessional e outra em uma universidade estrangeira. As instituições federais são regidas, do ponto de vista da assistência estudantil, pelo Decreto 7234/2010 que trata do Programa Nacional de Assistência Estudantil. Para facilitar o entendimento de todos os leitores, esclarecemos que, nessas instituições, além da carreira de docente, há os servidores técnico-administrativos. São esses últimos que atuam diretamente nas atribuições administrativas e nos serviços de apoio ao estudante como especialistas em suas áreas de formação. Assim, nos próximos capítulos, os autores falarão em Psicólogos, Pedagogos e Assistentes Sociais, que são técnico-administrativos concursados para esses cargos. Também há o cargo de Técnico em Assuntos Educacionais que pode ser ocupado por licenciados de forma geral.

No capítulo 4, Nogueira; Magnata; Santos apresentam o Serviço de Apoio Pedagógico (SAP) da Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB) e o processo de construção do serviço, destacando os desafios da interiorização e democratização da educação superior. O objetivo do trabalho é apresentar as experiências do serviço como política institucional e refletir sobre os impactos dessa ação para a autonomia dos estudantes no processo de afiliação intelectual e acadêmica. O apoio pedagógico na instituição é entendido como uma das ações institucionais da UFOB, que são desenvolvidas por meio de equipes multidisciplinares e que buscam acolher, acompanhar e orientar os estudantes de graduação em suas necessidades educacionais, colaborando para que os estudantes conquistem a autonomia em sua relação pedagógica com a aprendizagem.

Delatorre et al. falam sobre o Programa Institucional de Apoio Pedagógico aos Estudantes (PIAPE) na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), no capítulo 5. Relatam o processo de criação do programa, baseando-se na missão da universidade, e nas demandas trazidas pelo REUNI e PNAES. O PIAPE é uma ação da Pró-Reitoria de Graduação (Prograd) que tem como “objetivo proporcionar apoio pedagógico aos processos de aprendizagem, organizando-se a partir de um conjunto de ações que visam uma formação de qualidade para os estudantes de Graduação”. Desenvolve-se em todos os campi da instituição e atende aos mais de cem cursos, por meio de duas modalidades de atendimento: grupos de aprendizagem e orientação pedagógica. As autoras apresentam, também, a metodologia de atendimento e avaliação e discutem os desafios enfrentados para a consolidação do programa.

No capítulo 6 é apresentada a experiência do acompanhamento pedagógico para estudantes de graduação desenvolvida na UFSCar. Para tanto, Palomini; Cruz e Durães traçam o histórico do acompanhamento pedagógico na instituição e discutem a permanência material, acadêmica e simbólica. Assim, é possível perceber que, concomitantemente às políticas nacionais de expansão da educação superior, a universidade foi desenvolvendo suas políticas institucionais de reserva de vaga, adiantando-se às políticas nacionais para este fim e destaca-se pelo atendimento aos alunos indígenas e estrangeiros. Desde o início houve a preocupação com o acompanhamento acadêmico dos estudantes que ingressariam pelo novo sistema de seleção. Posteriormente, chegou-se ao entendimento institucional de que, independentemente da forma de ingresso, os alunos de graduação necessitavam de acompanhamento acadêmico e pedagógico. Os autores explicam que a UFSCar sustenta as ações de apoio ao estudante no tripé permanência material, permanência pedagógica, e permanência simbólica. Dentro desse contexto complexo, o acompanhamento acadêmico e pedagógico atende os alunos em todo o percurso da graduação “orientando sobre a carreira escolhida, as estratégias de condução do curso, as possibilidades de melhoria do desempenho acadêmico e como enfrentar as dificuldades encontradas no percurso formativo com relação aos conteúdos ensinados, bem como às relações interpessoais” (p. 157). O trabalho desenvolvido pela equipe baseia-se na concepção de diálogo freiriana e pela garantia da equidade, com o foco na permanência simbólica, para que os estudantes desses novos perfis se identifiquem como universitários e sejam reconhecidos como tais.

Fiorin; Pavão apresentam as ações desenvolvidas no Núcleo de Apoio à Aprendizagem da Coordenadoria de Ações Educacionais (CAED), da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). O objetivo do Núcleo é intervir nas questões que interferem na aprendizagem, no desempenho acadêmico e na permanência na universidade. A universidade possui serviços de apoio pedagógico para os estudantes desde a década de 1970, quando passou a contar com o Serviço de Orientação Educacional. Desde então, o serviço passou por mudanças e, desde 2016, o atendimento institucional aos estudantes é realizado pelo CAED, que agrega o Núcleo de Acessibilidade, o Núcleo de Ações Afirmativas e o Núcleo de Apoio à Aprendizagem, que é foco do capítulo 7. O trabalho do núcleo tem como fundamento teórico-prático a abordagem interdisciplinar e apoia-se no tripé ensino-pesquisa-extensão, oferecendo atendimentos individuais e coletivos, grupos terapêuticos, grupo de monitoria dentre outras ações.

Na Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA) o apoio pedagógico é realizado pela equipe multidisciplinar do Núcleo de Desenvolvimento Educacional (NuDE), como parceria entre a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis e Comunitários (PRAEC) e a Pró-Reitoria de Graduação. Conta, também, com o Programa de Apoio Social e Pedagógico (PASP). Fruto do processo de expansão da educação superior, a UNIPAMPA foi criada em 2008 e, desde sua criação, preocupou-se em oferecer uma formação acadêmica de excelência, qualificando os processos didático-pedagógicos de ensino-aprendizagem. Já em 2009 a instituição iniciou o processo para contratação de profissionais para compor uma equipe multiprofissional para a Coordenadoria de Apoio Pedagógico (CAP). Adotou-se, para o trabalho integrado das equipes dos diferentes campi, uma organização de rede acadêmica com a missão de integrar, agilizar a comunicação e a discussão entre seus pares. Luz; Lopes destacam o diferencial de no NuDE serem atendidos discentes e docentes, ao invés de estar em diferentes setores. O capítulo 8 apresenta as ações de apoio pedagógico como um dos aspectos a serem contemplados pelas ações de assistência estudantil e utiliza como fundamentação para o trabalho as pesquisas sobre pedagogia universitária e assessoramento pedagógico.

O capítulo 9 tem como objetivo apresentar o desenvolvimento do apoio pedagógico da Assistência Estudantil na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), suas principais características e os instrumentos utilizados nas suas atividades. O Setor de Pedagogia da Diretoria de Assistência Estudantil (DAE) e a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PROAES) desenvolvem as ações por meio de três atividades: acompanhamento pedagógico/acadêmico, plantão de orientação de matrícula e Projeto Cooperador Pedagógico. Santos; Silva; Lucena explicam a metodologia usada em cada uma dessas ações e os resultados das avaliações, realizadas até o momento, sobre essas ações. Ressaltam, ainda, que há ações de assistência estudantil na UFPE desde 1969, mas somente em 2012 foi criado o Setor de Pedagogia, fomentado pelo PNAES.

Zimba et al., no capítulo 10, apresentam as ações da Divisão de Integração Pedagógica (Diped) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que é vinculada à Pró-Reitoria de Políticas Estudantis (PR7). A Diped surgiu a partir das discussões e pesquisa realizada pelos profissionais (Pedagogos e Técnicos em Assuntos Educacionais) que atuavam no apoio ao estudante e que indicavam a necessidade de criar uma divisão que atendesse às demandas pedagógicas trazidas pelos alunos. A Divisão tem como objetivo propor e coordenar atividades de apoio pedagógico, contribuindo para a permanência e conclusão da graduação dos estudantes e promovendo a sua integração ao contexto acadêmico. São apresentas todas as ações realizadas pela Diped e explicadas as metodologias adotadas em cada uma delas. Essas atividades incluem atendimento individual e coletivo, oficinas, parcerias, suporte a professores, dentre outras. No texto também há a explicação do funcionamento das Comissões de Orientação e Acompanhamento Acadêmico (COAA), que existem na UFRJ desde 1997. As autoras finalizam apresentando a concepção de permanência e assistência estudantil e as possibilidades do apoio pedagógico para a democratização da educação superior no Brasil.

No capítulo 11, “Programa Tutorial Acadêmico no Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia da UNIFAL-MG: uma experiência de formação discente”, as autoras Amanda Rezende Costa Xavier e Carolina Del Roveri descrevem a implantação do Bacharelado Interdisplinar (BI) na Unifal-MG no contexto da expansão do ensino superior brasileiro e do REUNI, e da inspiração no modelo curricular da Universidade Nova, estruturado em ciclos formativos, em que o primeiro ciclo, “não profissionalizante, tem condições de romper com a precocidade na escolha da carreira profissional, quesito que contribui para os altos índices de evasão na educação superior do país”. Os Referenciais Orientadores dos BI (BRASIL, 2010), definem que, os Projetos Pedagógicos desses tipos cursos devem prever a inclusão de sistemas de acompanhamento da vida acadêmica dos estudantes com vistas à permanência e ao sucesso acadêmico. Estes sistemas, ou ferramentas pedagógicas, “têm a finalidade de diagnosticar, prevenir e superar os obstáculos vividos pelos estudantes, comprometendo seu êxito acadêmico, questões que se refletem na retenção e na evasão”. Na sequência, as autoras relatam sobre o Programa Tutorial Acadêmico (PTA) como forma de acompanhar e orientar seus estudantes. Essencialmente o PTA funciona através das tutorias, que é a relação entre docentes-tutores e estudantes-tutorados. As autoras destacam que ainda não há uma avaliação que correlacione a participação no PTA a um melhor desempenho acadêmico ou a uma menor evasão, mas apontam que numa avaliação de satisfação, a maioria dos estudantes entende ser relevante a iniciativa em se ter esse programa. Além desse acompanhamento dos professores-tutores, as autoras apresentam outras duas iniciativas, os cursos de curta duração, “que visam ao aprimoramento pedagógico, por meio do nivelamento de conteúdos” e a oferta de atividades formativas de ambientação acadêmica por meio de palestras e rodas de conversa. No capítulo 12, “Serviço de apoio ao estudante da Unicamp: contribuições para a permanência acadêmica e aprendizagem”, as autoras apresentam o Serviço de Apoio ao Estudante (SAE) da Universidade Estadual de Campinas e a parceria com o grupo de pesquisa Psicologia e educação superior da Faculdade de Educação, para a construção de intervenções em autorregulação da aprendizagem e destacam que essa parceria proporciona uma formação dos profissionais do serviço, além da produção de pesquisas nessa temática. Criado em 1975, o Serviço de Apoio ao Estudante (SAE), tem sua origem na gestão da Bolsa Trabalho, resultado de um convênio da universidade com o Ministério da Educação para concessão de bolsas a estudantes de graduação. O Programa de Intervenção em Autorregulação da Aprendizagem do SAE tem seu fundamento principal no livro “Cartas de Gervásio ao seu umbigo” que é um texto “composto por 14 cartas, sendo 11 escritas por um aluno ingressante chamado Gervásio e três por seu Umbigo”. Segundo as autoras, este “aluno caracteriza-se por ter saído da casa de seus pais para residir em local próximo à universidade que frequenta e, em suas cartas, descreve experiências negativas e positivas acerca de suas vivências pessoais, interpessoais, institucionais e de estudo” em que o umbigo dialoga com o aluno, uma “metáfora da metacognição/autorreflexão”. Na sequência do capítulo as autoras apresentam as três intervenções desenvolvidas na Unicamp a partir das Cartas do Gervásio ao seu Umbigo. Nas palavras delas, a “primeira é uma oficina presencial sobre autorregulação da aprendizagem, justaposta, destinada a estudantes ingressantes e veteranos. A segunda é uma intervenção presencial de curta duração com foco em uma temática específica. E a terceira, uma disciplina eletiva sobre autorregulação, que combina procedimentos on-line e encontros presenciais”. Em suas conclusões, as autoras evidenciam a importância de se avaliar os resultados das intervenções e descrevem na avaliação qualitativa feita pelos estudantes que as intervenções têm tido impacto positivo na “promoção da auto eficácia acadêmica, autorreflexão, autoconhecimento e uso de estratégias de autorregulação da aprendizagem” (Pelissoni, 2016; Salgado, Polydoro & Rosário, 2018).

Neste capítulo, as autoras abordam uma experiência em uma instituição particular e confessional, o “Núcleo de Orientação e Atendimento Psicopedagógico: uma experiência de apoio ao estudante no ensino superior”. O trabalho desse serviço se justifica, segundo as autoras, pela grande expansão do ensino superior brasileiro e pela diversidade de públicos que passou a ser atendido. Segundo elas, com o crescimento do número de estudantes na PUC-Rio também se verificou um aumento no número de “desistências, trancamentos ou retardamentos na conclusão do curso”. O Núcleo de Orientação e Atendimento Psicopedagógico (NOAP) surgiu desse contexto de apoiar a trajetória dos seus estudantes, considerando todos os aspectos objetivos e subjetivos da formação escolar deles. Em 2014, por meio do financiamento da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), o núcleo passou a ter três serviços gratuitos: Psicopedagogia, Leitura e Escrita e Orientação Profissional. Além disso, as autoras citam que em 2015 foi criada a Rede de Apoio ao Estudante – RAE – que articulou outros quatro núcleos: o Núcleo de Apoio e Inclusão da Pessoa com Deficiência (NAIPD), o Serviço Comunitário de Orientação Psicológica (PSICOM), o Serviço de Orientação ao Universitário do CTC (SOU-CTC), e o Serviço de Psicologia Aplicada (SPA). A RAE funciona por meio de “um sistema virtual no qual os profissionais dos núcleos cadastram os atendimentos realizados com os alunos, comunicam-se entre si, fazem encaminhamentos e consultam os atendimentos realizados nos demais núcleos”. Ao longo do capítulo 13 as autoras relatam como cada um dos serviços do NOAP funciona, assim como o próprio núcleo participa da ERA.

No último capítulo que encerra a seção de relatos de experiências, “Mentoria FPCEUP – processos participativos, democráticos e solidários de integração no ensino superior” as autoras contam como o programa de mentoria foi criado em 2011 na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto e como ele se expandiu em 2019 para toda a instituição, assim como se deu a criação de uma rede de mentorias e tutorias em Portugal. O suporte teórico dessa iniciativa são os estudos sobre a transição para o ensino superior e sobre uma nova exigência para as instituições de ensino superior em reconhecer e assumir seu papel “no desenvolvimento integral dos estudantes, a nível pessoal, cultural e social”. Na visão delas, os dispositivos de mentoria interpares têm sido implementados em diferentes instituições de ensino superior, buscando auxiliar seus estudantes nesse processo de transição e também de desenvolvimento de competências transversais. Assim através da relação entre mentores/as e mentorado/as, veteranos/as e ingressantes, busca-se acolher e acompanhar os/as calouros/as da instituição formando uma rede interna de apoio acadêmico, cultural e social. Hoje a Mentoria funciona através de sete eixos: captação de mentores/as, formação de mentores, acolhimento e integração, o desenvolvimento das relações interpares, encontros-convívio da mentoria, dinamização de atividades e avaliação e monitorização. As autoras do capítulo 14 concluem que a Mentoria tinha como objetivo inicial a integração dos/as novos/as estudantes, e que nesse tempo esse objetivo foi alcançado, porém constataram a importância dela para os/as mentores/as, principalmente em aspectos formativos no desenvolvimento de competências transversais, um processo, segundo elas, “até aqui não muito presente na vivência acadêmica tradicional”.

Na terceira parte do livro, apresentamos três contribuições que nos ajudam a pensar os serviços de apoio pedagógico em contextos específicos e perspectivas para a área trazidas pelo documento apresentado no último capítulo.

No capítulo 15, “A Orientação Educacional no Instituto Tecnológico de Aeronáutica – ITA: uma história de pioneirismo”, os autores descrevem o pioneirismo do Serviço de Orientação Educacional do Instituto Tecnológico de Aeronáutica – ITA, uma instituição de ensino superior ligada ao Comando da Aeronáutica (COMAER), localizada no Vale do Paraíba, na cidade de São José dos Campos (SP) e a relação intrínseca deste setor com a história da própria instituição. Segundo os autores, o ITA foi inspirado no modelo norte-americano e no “idealismo” de um grupo de militares brasileiros. Ao longo do texto os autores vão descrevendo algumas das etapas de criação do ITA para, na sequência, apresentar o Serviço de Orientação Educacional, que segundo eles tem um pioneirismo no ensino superior brasileiro, uma vez que existe praticamente desde a criação do próprio ITA e que, na visão deles, se deu pela influencia de instituições internacionais. Os autores citam o Sistema de Aconselhamento como uma das atividades da Orientação Educacional que é baseado em um manual de autoria de Daniel Antipoff e datado de 1964. O Aconselhamento, segundo os autores, “consiste em disponibilizar ao aluno ingressante, a oportunidade de escolher um docente que será designado seu Conselheiro, e que irá orientá-lo durante sua trajetória acadêmica e ajudar a encontrar soluções para alguma dificuldade, além do acompanhamento em eventuais problemas de ordem pessoal”.

Já no capítulo 16, “Ações de permanência nas áreas STEM e o caso da Escola de Engenharia da UFRJ”, Ruth Maria Moraes Oliveira Prado faz uma revisão dos conceitos de permanência e assistência estudantil e suas referências para a língua inglesa, como a ideia de “retention”. Seu objeto de análise são as políticas institucionais de permanência estudantil em cursos nas áreas STEM (Science, Technology, Engineering and Mathematics), mais especificamente na Escola Politécnica de Engenharia da UFRJ (Poli/UFRJ). Ela destaca como ponto de reflexão que as Instituições de Ensino Superior “podem desenvolver ações e estratégias de permanência sem que isso, necessariamente, esteja atrelado a uma política norteadora”, e sim de iniciativas “isoladas de cursos ou departamentos”, e no desenvolvimento do seu texto sobre a UFRJ exemplifica com duas ações institucionais e uma pontual, específica da Poli/UFRJ. Ela ainda destaca o PNAES (Programa Nacional de Assistência Estudantil) como uma política central brasileira voltada à permanência dos estudantes, trazendo outras citações que indicam que depois das dificuldades financeiras, as principais dificuldades dos estudantes são em aspectos pedagógicos, e que, as “necessidades simbólicas e/ou acadêmicas, progressivamente, têm ganhado atenção dos pesquisadores”. Na sequencia, a autora apresenta dois modelos teóricos para se pensar a permanência, Tinto (1975; 1988; 1993; 1999; 2007) e Coulon (2008) para depois, a partir deles, analisar a permanência nas áreas STEM em especial as dificuldades com matemática básica, problema recorrente na literatura nacional e internacional. Ela destaca algumas estratégias para lidar com esse problema, como os cursos de ambientação institucional e acadêmica, ensino de técnicas de estudo, gestão do tempo, cursos introdutórios, comunidades de aprendizado, entre outros. Por fim ela apresenta a UFRJ e a Poli e suas estratégias para lidar com essas questões pedagógicas, como as COAA (Comissão de Orientação e Acompanhamento Acadêmico) ligadas aos cursos e unidades acadêmicas, a Divisão de Integração Pedagógica (DIPED) ligada à Pró-Reitoria de Políticas Estudantis (PR7) e a Diretoria Adjunta de Políticas Estudantis (DAPE), criada mais recentemente pela diretoria da Escola Politécnica.

No último capítulo do livro, o autor faz um resumo de “Student affairs and services in higher education: global foundations, issues and best practices” organizado por Ludeman, Osfield, Hidalgo, Oste e Wang e publicado pela UNESCO em 2009 em colaboração com a IASAS (The International Association of Student Affairs and Services). O título em língua portuguesa “Serviços e Assuntos Estudantis no Ensino Superior: Fundamentos Globais, Questões e Boas Práticas” é uma tentativa inicial de tentar aproximar os conceitos do ensino superior internacional, em especial do norte-americano, em aproximações da realidade brasileira. O autor chama atenção para a leitura do material, indicando ser importante contextualizar a publicação no tempo, no tipo de organismo financiador e que publicou o material e nas referências internacionais baseadas em outros modelos de ensino superior. Assim, o intuito do texto é apenas subsidiar, em língua portuguesa, os serviços de apoio aos estudantes no Brasil. O autor faz uma apresentação geral da publicação e de sua fundamentação teórica e na sequência apresenta cada uma das dez seções, além dos textos introdutórios e alguns anexos. Ele chama a atenção para o fato de que cada item ou subitem de uma seção é de uma autoria específica e que, em todos os itens de cada seção, há uma descrição de algum serviço, com seu histórico e sua importância em determinado contexto e uma relação das suas principais finalidades e atividades.

Ao final, dois dos organizadores deste livro apresentam uma sistematização das informações sobre as ações dos serviços aqui apresentados, dos referenciais bibliográficos utilizados e do perfil dos autores. Reforçamos que este livro representa tanto a iniciativa de dar visibilidade ao apoio pedagógico e sua importância para a permanência, como a busca por oferecer aos profissionais desses serviços referências teóricas e práticas para as ações desenvolvidas. Esperamos que a leitura contribua para o avanço das discussões.

Michelle Cristine da Silva Toti[1]Carlos Eduardo Sampaio Burgos Dias[2]

1- Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da Unicamp. Pedagoga da Pró-reitoria de Graduação da Universidade Federal de Alfenas (Unifal-MG).2- Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da Unicamp e Pedagogo do Núcleo de Apoio ao Estudante da Escola Paulista de Política, Economia e Negócios (EPPEN) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Ano de lançamento

2020

ISBN [e-book]

978-65-87645-79-7

Número de páginas

520

Organização

Carlos Eduardo Sampaio Burgos Dias, Michelle Cristine da Silva Toti

Formato