Professores transformadores de ambientes multimodais de aprendizagem

Francis Arthuso Paiva

PREFÁCIO

Colocando a teoria em prática

Carla Viana Coscarelli

Nas últimas três décadas, as tecnologias de comunicação mudaram muito por causa da internet, dos computadores e dos celulares. Lemos e produzimos textos nesses equipamentos. Novos gêneros textuais surgiram e outros se modificaram com essas novas ferramentas. Várias mídias, como o rádio, a TV, o cinema, a música, os jornais, entre outras, estão integradas nos ambientes digitais. A exploração de diversos recursos multimodais é possível por meio desses programas, que também possibilitam aproximar quem está longe e viabilizam produções colaborativas entre várias pessoas síncrona e assincronamente. Se tudo isso é possível e tem se tornado parte da nossa vida, será que nossa escola também não deveria incorporar essas práticas e possibilidades?

Textos são multimodais (KRESS, VAN LEEUWEN, 1998), ou seja, exploram diversas linguagens, como elementos linguísticos, visuais, sonoros, que são organizados e harmonizados em um design que busca atingir uma determinada função em uma situação comunicativa para um certo público-alvo.

A educação infantil explora bastante as potencialidades das imagens, das sonoridades, da expressão corporal, mas, com o desenvolvimento do domínio da escrita pelos estudantes ao longo dos anos, o foco das aulas se instala cada vez mais na linguagem verbal e as outras linguagens são deixadas de lado. Os livros deixam de ter imagens, as canções não mais participam frequentemente das aulas, os desenhos, as colagens e as pinturas deixam de fazer parte das atividades.

Sabemos que a aquisição da escrita é trabalhosa, desafiadora e que a escola é um lugar muito importante para o desenvolvimento dela. A escola é nossa principal agência de letramento. No entanto, a linguagem verbal não anda sozinha. Ela está nos vários gêneros textuais usados nas mais diversas situações de comunicação, e cada situação demanda a exploração de diferentes linguagens e elementos que vão compor os textos.

Não nascemos sabendo lidar com essas linguagens da mesma forma que não nascemos sabendo falar, ler e escrever. A compreensão e a produção dos diversos gêneros textuais que usamos no nosso cotidiano são fruto de aprendizagem.

Hoje temos tecnologias que nos possibilitam gravar, filmar, fazer infográficos, escrever colaborativamente. Isso não significa que todas as pessoas têm acesso a elas. Nossos estudantes precisam aprender a lidar com essas tecnologias de compreensão e produção de textos. Sendo assim, a escola deve criar formas de incorporar esses saberes em seu projeto pedagógico. Como agência de letramento, a escola precisa criar condições para que os estudantes aprendam a usar editores de textos, de vídeos, de imagens e de áudios. Precisa também ajudar esses alunos a desenvolver estratégias e habilidades de compreensão de textos dos mais diversos gêneros. Essa compreensão requer a busca de informação, a seleção daqueles dados mais relevantes para a situação, a interpretação dessas informações, assim como uma análise crítica delas e, em alguns casos, a elaboração e o compartilhamento de uma resposta a elas. Esses são processos complexos, que precisam ser aprendidos e exercitados pelos alunos em um crescente grau de dificuldade até que eles se tornem capazes de lidar, por conta própria, dos textos que farão parte de sua vida pessoal e profissional, tornando-se assim cidadãos letrados e incluídos em práticas sociais diversas requeridas em nossa sociedade contemporânea.

Estas competências, que estão contempladas na Base Nacional Comum Curricular, devem ser ensinadas aos nossos alunos. A todos deve ser dada a oportunidade de aprender a lidar com desenvoltura com essas linguagens e as diversas tecnologias de comunicação. Assim como também deve ser dado a todos o direito ao acesso à informação e às diversas formas de comunicação (incluindo o acesso de qualidade a equipamentos como computadores e à internet) não somente no ambiente escolar, mas também em suas casas.

Essa realidade, que queremos para todos os nossos alunos, nos leva a repensar as nossas práticas escolares. Como preparar nossos alunos para as práticas de linguagem contemporâneas? Como preparar os alunos para exercer plenamente a cidadania? O material que temos aqui nos ajuda a encontrar respostas para essas perguntas. Este livro reúne sete sugestões de práticas pedagógicas que foram criadas e aplicadas por professores. Esses capítulos apresentam teorias que dão suporte às práticas assim como orientações para colocar essas teorias em ação. As atividades trabalham com diferentes gêneros textuais como o relatório científico, feito a partir de um problema real de uma comunidade, estimulam a produção de fotorreportagens, a escrita colaborativa em ambiente wiki, o trabalho com a oralidade nos podcasts, bem como a produção de conteúdo confiável para redes sociais digitais. Além disso, desenvolvem a busca criteriosa por informações em múltiplas fontes e a leitura atenta de infográficos.

Todos os autores têm em comum a vontade de “aproximar a escola das práticas sociais de leitura e produção como elas acontecem no mundo” (PAIVA e SANTOS, neste volume), trabalhando com a multimodalidade e uma concepção de educação que busca promover a autonomia, o protagonismo e o engajamento social dos estudantes.

É uma leitura prazerosa, inspiradora e que nos enche de esperança, uma vez que nos mostra que um ensino significativo e prazeroso, tanto para os alunos quanto para os professores, é possível. É também uma prova da competência, da perseverança e da criatividade de nossos professores.

Referências

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.

KRESS, Gunther, van LEEUWEN, Theo. Front Pages: (The Critical) Analysis of Newspaper Layout. In.: BELL, A.; GARRET, P. (ed.). Approaches to Media Discourse. Oxford, UK: Blackwell Publishing, 1998, p. 186-219.

Ano de lançamento

2022

Número de páginas

198

Organização

Francis Arthuso Paiva

ISBN

978-65-5869-830-2

ISBN [e-book]

978-65-5869-831-9

Formato