Brincar, criar e inovar: refletindo o currículo e as práticas educativas na educação infantil

Márcia Saviczki Pinho, Marcos Renan Freitas de Oliveira, Rosália Maria Saraiva Galvão

APRESENTAÇÃO

Ao analisar sobre como se configurou a Educação Infantil do município de Bragança(PA) percebe-se que, historicamente, esta etapa de ensino percorreu os mesmos passos conceituais e legais do país. A concepção de criança, ser frágil e miniatura de adulto, do período medieval, transitaram as ideologias sociais e se materializaram nas legislações vigentes de cada época, em particular.

Bragança perpassou pelo assistencialismo infantil às famílias carentes, sendo implantado no fim da década de 70, o Projeto Casulo, da Legião Brasileira de Assistência (LBA) com parceria do Sistema Educativo Radiofônico de Bragança (SERB) e a Paróquia de Nossa Senhora do Rosário, e alcançou a compreensão da concepção de criança cidadã‚ pessoas que produzem cultura e são nela produzidas, que possuem um olhar crítico que vira pelo avesso a ordem das coisas, subvertendo essa ordem (KRAMMER, 1999, p. 272) expressa na Lei nº 9.394/1996, de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), que reconhece e assegura a Educação Infantil como primeira etapa da Educação Básica, e da promulgação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI) – Resolução CNE/CEB No 5/2009.

As DCNEI objetivam nortear as ações pedagógicas para promulgar e executar essa proposta que enxerga a criança como o centro da organização curricular, definido como prática, e traz como eixo central as brincadeiras e interações (BRASIL, 2010) e veem o currículo como‚ conjunto de práticas que buscam articular as experiências e os saberes das crianças com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental, científico e tecnológico, de modo a promover o desenvolvimento integral de crianças de 0 a 5 anos de idade (BRASIL, 2010).

Nessa perspectiva a Coordenação de Educação Infantil da Secretaria Municipal de Educação (SEMED) de Bragança (PA),  preocupada em pensar um currículo significativo para as crianças de zero a cinco anos, construiu no período de 2011 a 2012 uma agenda de encontros quinzenais com coordenadores pedagógicos para as discussões teóricas e conceituais acerca do currículo, criança, infância e educação infantil, bem como, encontros com todos os professores da rede municipal de ensino com o objetivo de construir uma Proposta Curricular que estivesse em consonância com as DCNEI e com a realidade local.

O resultado final desses encontros de formação foi a construção de fato de uma Proposta Curricular que buscou valorizar as experiências e vivências das crianças no trabalho pedagógico. Assim, a Proposta Curricular para a Educação Infantil do município de Bragança(PA) – 2012 – ficou estruturada, alicerçada em quatro eixos: 1. Experiências de descoberta e exploração das linguagens; 2. Experiências investigativas sobre si e sobre o mundo; 3. Experiências de exploração do cotidiano; e 4. Experiências de valorização da expressividade e faz de conta.

No ano de 2016, foi sentida a necessidade de imersão nesse documento na perspectiva de atender às novas demandas, que haviam surgido, em níveis macro e micro. Neste sentido, por meio de encontros entre coordenadores e professores, um novo movimento de estudos, discussões e novas proposições foram sendo geridos. Com isso, após cinco anos em pleno desenvolvimento da Proposta Curricular construída, a Coordenação Pedagógica de Educação Infantil da SEMED de Bragança (PA), em seu planejamento interno, após encontros de formação continuada dos professores da rede municipal de ensino, percebeu a necessidade de reformulação e organizou uma comissão para iniciar as discussões para identificar e apontar os pontos necessários a serem refletidos e reformulados.

Como resultado dessas proposições, em 16 de agosto de 2017, foi materializado o Seminário de Educação Infantil “Brincar, criar e inovar: refletindo o currículo e práticas educativas na educação infantil”, que se configurou em um momento rico de fortes debates acerca do saber fazer docente para a primeira etapa da educação básica.

A força motriz que impulsionou a organização desse evento foi a necessidade de construir um currículo mais inclusivo que respondesse aos atuais anseios e necessidades de uma sociedade tão rica em manifestações culturais e naturais, estabelecida a partir da miscigenação de diferentes povos que ao longo dos séculos convergiram para a construção de uma identidade local e regional. Dessa forma, era preciso refletir e dar visibilidade às práticas e compreensões teórico-metodológicas desenvolvidas pelos profissionais atuantes na Educação Infantil, professores e equipes gestoras, durante os cinco anos de implantação da proposta.

Os encontros que precederam o Seminário já haviam apontado a necessidade de atualização da proposta nas áreas de meio ambiente, étnico-racial, novas tecnologias, valorização dos saberes locais e inclusão social. Esse seminário, ao retomar debates em torno da Proposta Curricular (2012) reforçou a necessidade de sua reformulação nas áreas citadas e outras que provavelmente serão apontadas em encontros futuros, que no momento podem estar obscuras ainda. A reformulação tem em vista ampliar a Proposta para um currículo que seja mais inclusivo, levando em consideração as atuais referências sobre inclusão social.

O Seminário de Educação Infantil “Brincar, criar e inovar: refletindo o currículo e práticas educativas na educação infantil” foi organizado em três grandes momentos: A “Roda de Conversas”, as “Cirandas Temáticas” e as “Oficinas Metodológicas: Organização do trabalho pedagógico em sala de aula”. Toda essa construção teórica é o material que compõe o editorial deste livro (formato: e-book).

No primeiro capítulo encontra-se a “Roda de Conversas” e traz à baila as discussões teórico-metodológicas e a retomada dos quatro eixos curriculares da proposta. Esse capítulo está organizado da seguinte forma: Experiências de descoberta e exploração das linguagens (Profa. Dra. Amélia Maria Araújo Mesquita – UFPA), Experiências de exploração do cotidiano (Profa. Dra. Ana Paula Vieira e Souza – UFPA), Experiências investigativas sobre si e sobre o mundo (Profa. Dra. Raquel Amorim dos Santos – UFPA) e Experiências de valorização da expressividade e faz de conta (Profa. Mestranda Luciane da Costa Araújo – UFPA).

No segundo capítulo encontram-se as “Cirandas Temáticas” que consistem na socialização de vivências de atividades realizadas em salas de aulas, através de apresentações de relatos de experiências pelos próprios professores da rede municipal. Os trabalhos apresentados foram inscritos e selecionados previamente. O segundo capítulo está subdividido em cinco momentos:

Ciranda 01: Práticas inclusivas da criança com deficiência – abordou experiências de práticas educativas que promoveram a inclusão social, aprendizagem e desenvolvimento integral das crianças com deficiência;

Ciranda 02: Valorização da Expressividade, imaginação e faz de conta – explorou experiências que buscaram promover o processo de ensino e aprendizagem nas salas de aula, salas de leitura e projetos pedagógicos, utilizando as narrativas, através da contação de histórias, práticas de leitura e escrita, jogos e outros, como ferramentas pedagógicas no processo de ensino e aprendizagem infantil;

Ciranda 03: Práticas Educativas na Educação Infantil no Campo – discutiu experiências que envolveram práticas educativas em turmas de Educação Infantil no campo, que reconheceram e valorizaram os elementos constituintes da realidade e diversidade campesina;

Ciranda 04: Cultura, Diversidade e Identidade – debateu experiências educativas que consideraram e fomentaram as interações infantis de conhecimento étnico-racial, cultural e de diferentes identidades, costumes e manifestações de comunidades e povos tradicionais.

Ciranda 05: Movimento, Brincadeiras e Cultura – tratou de experiências que tiveram como eixo de trabalho as brincadeiras nas suas mais diferentes formas, como veículo de valorização do movimento e apropriação cultural, desenvolvimento e aprendizagem infantil e, principalmente, como o eixo vertical fundamental do currículo da Educação Infantil.

No terceiro capítulo encontram-se as “Oficinas Metodológicas: Organização do trabalho pedagógico em sala de aula” que foram direcionadas às equipes gestoras e professores do Pré-I, Pré-II, Creche e Campo, referentes aos níveis e modalidades ofertadas no município de Bragança (PA), para a Educação Infantil. Essas oficinas propuseram discutir metodologias desenvolvidas a partir da implementação da Proposta para a Educação Infantil no município, refletindo como era antes, como foi durante esses cinco anos, como está sendo agora e o que pensamos para o futuro.

Este e-book representa não somente as discussões conceituais tecidas ao longo dos sete anos em que esta proposta vigora, mas, sobretudo a experiência viva de todos os profissionais que constroem a educação infantil no município de Bragança (PA).

Bragança – Cidade da Marujada de São Benedito
Pará, 30 de Janeiro de 2018.

Márcia Saviczki Pinho
Degiane da SilvaFarias

Ano de lançamento

2018

ISBN [e-book]

978-85-7993-506-0

Número de páginas

185

Organização

Márcia Saviczki Pinho, Marcos Renan Freitas de Oliveira, Rosália Maria Saraiva Galvão

Formato