Leio este livro como um gesto de resistência e de afirmação de professoras e professores através das suas histórias. As 23 autoras e os dois autores explicam-nos o que fazem e o que pensam, apresentam-nos as suas histórias e revelam-nos uma capacidade única de afirmação da profissão docente. Na singularidade de cada uma destas narrativas, está um sentido maior da profissão, nas suas dimensões pessoais e colectivas. Uma das fronteiras principais de resistência é a defesa dos professores. Vivemos uma crise mundial da profissão docente, que tem raízes materiais (baixos salários, fragilidade da carreira, deficientes condições de trabalho, etc.), mas vai muito para além delas. Estamos a assistir a uma corrosão da profissionalidade docente, com reflexos na imagem e na auctoritas dos professores. Os nomes que se chamam aos professores – facilitadores, colaboradores, animadores, guias, mentores… – ilustram um problema com a identidade profissional. Traduzem uma diminuição da auctoritas no plano individual, mas sobretudo no plano colectivo da profissão. […]. As histórias que contamos uns aos outros são tão fundamentais quanto a cultura e a ciência para nos situarmos no presente e no futuro. Precisamos destas histórias e de construir espaços de conversa, de reflexão e de decisão. As universidades têm um papel importante a cumprir, se forem capazes de um compromisso forte com os professores da Educação Básica. Em pé de igualdade. Criar espaços de conversa e de diálogo é o ponto de partida para a construção de histórias comuns. A escrita é um momento de liberdade. A acção é o momento em que se defende a liberdade colectivamente. Tudo está presente neste livro.
